Capitulo 7
Vejam bem migs, eu ando sedenta de acolhimento e amor. Me dá a mão aqui, tenta me entender:
É muito difícil, cruel e complicado notar que, por mais que eu tenha melhorado, ainda estou longe de me aproximar do status que já tive. Passei a ser impostora de mim – tendo a convicção que não sou capaz do que já fui. E na priorização de papéis {esses emaranhados de expectativas que te condecoram como o ser que esperam que você seja} – entendi que (surprise surprise) o que me aterra é a maternidade, tal qual a vivo {cheia de questões, inseguranças, dificuldades, traumas e orgulho}. E enquanto me cuido, foco em cuidar da pequena quando ela está comigo.
E trabalho? Atualmente, além do urso (ver posts anteriores), tenho uma deficiência na visão. Comecei a perceber uma perda de visão periférica em maio de 2021, em outubro do mesmo ano eu comecei a notar grandes espaços sem foco e “ondas” com cores, principalmente em superficies claras. Dali em diante eu tenho dias melhores e piores, mas no geral a sensação de ‘strobo’ leve é constante – a não ser que eu use o óculo$ pra fotofobia que comprei com a vaquinha do meu aniversário. Bem, isso me permite sentar em frente à tela do computador por uns minutos diários, mas não me dá nenhum respaldo pra retomar uma carreira no mundo business com computador na cara 8h por dia.
Pois bem… na última segunda-feira conheci um espaço onde eu terei acompanhamento profissional no decorrer das próximas semanas com o objetivo de voltar pros trilhos. Uma das pessoas que conheci nesta clinica me perguntou sobre meu por enquanto trabalho e me lembrei que tive um burn out em 2018. Quando ela me pediu pra especificar eu fui me lembrando de detalhes e, de repente, um resquício da memória de um período de 2-3 meses, quando convivi com uma pessoa horrível me causou um horror tremendo.
Minha boca secou, eu comecei a gaguejar, esqueci as palavras que queria usar e só me veio a angústia de me sentir desrespeitada e apagada em diversos níveis. {Isso, sem o menor exageto, é sintoma de trauma…} em seguida me lembrei que, quando essa pessoa saiu, deixou uma infinidade de erros que eu passei muitos meses corrigindo e lidando com coisas que foram perdas irreparáveis pro projeto pro qual eu trabalhava. Eu me perguntei porque permaneci lá, mas dessa vez foi difícil me convencer que, com todas as situações grotescas que me lembrei naquele par de segundos, permanecer foi a decisão correta.
Nunca fui de chorar o leite derramado. Na época desses episódios eu consegui outras propostas de emprego e, quando acordei com meu empregador que ficaria, não olhei mais pra trás. Nesse momento da vida, porém, eu estou me permitindo 1- dizer que eu faria diferente e 2- me sentir triste pelas decepções que a vida me trouxe. Meu otimismo sempre me levou a olhar o lado bom das coisas e ser grata pelo lugar para onde meus passos me trouxeram, no entanto quero me certificar que a persistência não me bloqueie e que eu saiba viver o luto e seguir em frente – deixando pra trás o que não preciso mais.
Manter o movimento na verdade nunca foi um problema. Não me lembro de parar pra nada, nem por nada. Não tinha consciência do que é descansar até uns poucos meses atrás, quando meu corpo pifou. E agora no meio de mil provas cabais que estou exausta por motivos plausíveis, eu aceitei parar. E, não, eu ainda não consegui.
Mas só por aceitar parar eu sinto vergonha e medo. Medo de não ser respeitada, de ser julgada e de ter saúde o suficiente pra retomar atividades. Vergonha por ter falhado, por não estar confortável de pé , por ter espasmos faciais e usar óculos escuros à noite. E, quando consigo me divertir, eu mesma trato de me julgar e condenar, pois podia ter usado minha energia pra produzir seja-o-que-for. Os sentimentos vem, eu os dispenso, tentando criar no meu sistema nervoso outro tipo de resposta ao focar na recuperação do meu corpo.
O que me resta é colocar isso em frases, publicar, distribuir e aguardar; esperando que tenhamos mais consciência que nossas necessidades são na verdade imposicoes capitalistas insustentáveis que eu possa inspirar, validar e/ou receber o carinho de alguém. O fato de eu não ter mais dor 24/7 me traz um alivio que se assemelha à esperança. Mas o ânimo é raro, a energia me falta e se eu pensar muito tenho vontade de chorar, por cansaço e medo do que {sabe-se lá o que} há por vir.
Que o novo tratamento melhore tudo mais um bocado e todas as conexões que criarmos nesse meio tempo façam a jornada menos dolorida. E que eu consiga me manter inspirada pelo amor que recebo, da minha pequena e de quem me apoia <3