Torn

My days insist on being hard, but compared to what they used to be, I can only be grateful. It’s a piece of cake. Sometimes it’s hard to keep my eyes open, to think straight, or it’s hard to lift one of my arms. It’s much worse not to love oneself, and damn, how hard it is to understand how to love oneself.

With those I love, my days are not easy, but affection makes everything shine. Some days are more beautiful, some are so difficult that the beauty disappears, regardless of being surrounded by love.

I feel good most of the time, and most of the time I’m doing things to keep myself well. Sometimes all I want is silence, but I’ve learned that my chatty mind will chatter, so I occupy it with a story, with a song, a list, or with a text (like this one).

Partnerships are transforming, and as we transition, now and then a little ache comes, and there it will stay… until it’s no longer there.

I’ve been feeling lonely; it’s hard to sleep. It’s hard to love from afar; it’s hard to sustain balance with such a distant love. It’s very hard to understand that what is not nourished dies. So the hardest thing is to understand the whys.

Even though I believe that love is action, that feelings pass, that thoughts change, that movement and intention drive everything… I still find myself immersed in privilege and gratitude, feeling an urge to tear my tears out.

Longing is love that isn’t there. And if love is action, how could it be there?

At least we know that difficult isn’t bad… it’s just difficult

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Muito mais que DNA – O que me forma?

No emaranhado de sensações que os últimos dias me trouxeram, resolvi finalmente iniciar um projeto pessoal que me ajuda a elaborar meus sentimentos e relembrar minha resiliência. Guardo pra mim uma infindável lista de situações pessoais que um dia me geraram angústia, e hoje em dia não mais. E pensando na praxis dos meus ideais, resolvi agir de acordo com o que julgo coerente e organizar pensamentos com palavas; praticar a escrita curativa.

Atualmente, mais do que nunca, alguns se deixam enganar por pessoas articuladas pelo simples fato de terem tal dom. Se somamos isto à crença de que ‘respeitar os mais velhos’ é o mesmo que ‘não discordar’ ou ‘não criar conflitos’, temos como resultado: gente inteligente e respeitável caindo no discurso de gente articulada e mal intencionada – vide o episódio do lendário gen. Benjamin Arrola (haha).

Uma das pessoas mais articuladas que conheço, por exemplo, não passa muito tempo no mesmo círculo social. Um padrão de comportamento perceptível é escalar situações conflituosas usando detalhes improváveis para que no fim das contas esta pessoa possa se afastar com a *honra* de ser vítima. Convenhamos que a regra é clara: se alguém nunca erra no jogo da vida é sinal de que não está jogando certo.

Sinto muito pelos que caem na armadilha estética do texto, porém sinto ainda mais pelo autor que acredita no que diz. Vejam bem, eu venho de um lar caótico onde a comunicação era truncada e virava munição de guerra. A cada vida que me passa percebo tons de crueldade baseados em presunções e percepções de uma mente psicótica, narcisa com um fetiche pelo vitimismo – que no seu entendimento dá carta branca pra ações nada elegantes.

Cada dia mais dona desse narizinho

Embora dos meus quase 40 anos de vida eu tenha convivido com meu genitor apenas dos 0 aos 6 e dos 14 aos 19 anos, eu sou uma perfeita cópia dele em diversos aspectos. Não puxei só seu raciocínio lógico, a vaidade e o tino musical. Eu também puxei o dom com as palavras. A grande – e gritante – diferença é que eu não ajo como se estivesse acima das leis, do bem e do mal. Uso meu dom da escrita para aliviar minhas angústias e fazer auto avaliação – jamais com o fim caluniar outras pessoas para que eu seja vista como boa moça. Minha criatividade fica em cargo de suavizar a dureza do que vivo e de quem sou.

Um professor no primeiro semestre da faculdade nos lembrava de tempos em tempos que qualquer pessoa pode escrever qualquer coisa. Não há possibilidade que os livros, (atualmente posts ou tweets) se rebelem contra os absurdos sendo escritos. Tenho nas minhas memórias mais preteridas algumas historinhas que presenciei e vi com meus olhos que, em parte se contrapõem e em parte se sobrepõem aos devaneios que meu pai escreve. O que me resta aqui, na falta da capacidade de “desver” é o bom, velho e imprescindível pensamento crítico.

A maior parte do que escrevi que envolve meu pai eu guardei. Algumas coisas nem ousei transcrever pra não ter o desprazer de visualizar e re-materializar a dor. E, sendo a pessoa polêmica que ele é, qualquer opinião que eu emita e vá de desencontro às histórias que ele criou, deve desencadear suposições, assimilações e ataques à mim e minha capacidade de ser/dizer/responder por mim. Por medo da retaliação e pra nos proteger, por 20 anos eu optei por não cutucar a onça. Mas o que adianta dar paz à onça quando ela continua a atormentar?

Há pouco tempo, porém, ele resolveu pegar carona numa coisa minha, que só eu, meu namorado e minha mãe tivemos participação ativa. Ele usou minhas imagens e minha (falta de) saúde, forjou tomar rédeas fazendo parecer que 1- se importa 2- se envolve 3- moveu alguma palha pra que minha meta naquele momento fosse alcançada. Materialmente ele fez algo sim: assim como 90% dos meus essenciais e queridos contribuintes – numa vaquinha pro meu aniversário – meu pai enviou R$ 100,00 (cerca de 15€ dos +1400€ que recebi) para meus tratamentos de saúde. Minha tristeza, porém, não é sobre dinheiro. Pra mim nunca foi e jamais será. Me senti invadida pela ousadia do falso protagonismo de uma pessoa que um dia foi importante pra mim.

O que eu fiz com o sentimento? Retomei meus textos elucidativos sobre quem sou, quem somos, quem é quem na minha família e o que cada um colaborou para eu ser o que eu sou. Há comigo uma lista de grandes e ainda maiores traumas – protagonizados pela disfunção de uma família composta por um homem e três mulheres – algo que culturalmente e socialmente deixava nós, mulheres à mercê do ‘provedor’ – apesar de quem ter estado e ainda estar no nosso dia a dia provendo o necessário ser minha mamadi. 

Andrea Vinhal é avó, avô, mãe, pai, amiga, confidente, às vezes filha (not good, mom), sempre generosa, sempre ativa, sempre com a cabeça nas nuvens. Se presta a ser amiga e mãe também dos meus amigos, a quem ela conhece e trata com amor. Ela é um trator mais rápido que seu próprio pensamento e resolve problemas práticos com complicações absurdas, embora tudo esteja muito claro na sua cabeça. Tem seus defeitos, mas são bem distintos do que os olhos e a bagagem do do meu pai o permite ver.

Quando minha mãe se magoa com algo ela esbugalha os olhos e aumenta o tom e velocidade da voz, às vezes grita ou chora. Já meu pai quando se sente acuado ou ferido não demonstra. Sua saída de praxe é ofender e descredibilizar seu oponente – e quantos oponentes ele tem! Sempre está sendo injustiçado de algum lado, seja este o atendente do telemarketing ou um irmão.

Em 2003 (quando meus pais finalmente se separaram após um breve e turvo período morando na mesma casa sem se falar) eu fui morar com minha mãe e passei a ter cada vez menos convivência com meu pai o vendo, no fim da minha estada no Brasil há 6 anos, apenas em pontuais eventos. Eu evitava diversos assuntos para evitar o conflito e optei desde muito cedo por não me pronunciar, porque toda a energia me afetava muito. A última vez que ele gritou comigo foi em 2016, eu já era mãe e achei surreal, mas naquele momento eu já conseguia me afastar e entender que aquele descontrole era uma questão dele, e minha escolha era não me envolver.

Revolution
Contra canalhas só nos resta poesia.

Foi do meu pai que eu herdei o “overthinking”, a capacidade de arquitetar e refrasear. Já fui apta à reação às frustrações de forma acalorada e da transferência de responsabilidade aos meus ‘oponentes’, porém a metamorfose aqui não pára, e a cada dia me torno mais dona de mim e menos sucetível ao drama externo. Na última ou penúltima vez que me deparei sofrendo por atitudes do meu genitor, eu fiz questão de publicar uma carta de amor à todos aqueles que me amam de um jeito que compreendo, me cuidam e me querem bem, estando longe ou perto.

Em suma, mesmo estando numa mesma ocasião as pessoas vivem diferentes histórias, e aqui no meu espacinho eu escrevo a minha <3

Also… Registro aqui algo que acredito e levo como filosofia de vida: o mais rico dom quando se trata de se comunicar é a capacidade de empatia, com o desenvolver de discussões e conflitos de forma saudável, respeitosa e coerente. É a melhor forma de expandir horizontes e nos enriquecer como seres humanos e sociedade. Conflito não significa desrespeito, e a Gramática, meus amores, é acabamento… pura maquiagem.

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Setênio 6 ano 3 – E Paz?

Tava buscando uma paz que eu jamais (nunca nunquinha) tive. Não consegui. Talvez porque ao sair da caixinha que aprendi a viver, sem querer, arrastei comigo um saco de culpa e com ela a dor de um luto; e os dois juntos pesavam aproximadamente 3 galáxias.

Dou minha palavra. Fui quem escalou com as unhas (e dentes?) o interior de uma garrafa de vidro opaco enquanto chorava um pranto tão tenro (cheio, tanto, farto, falho) que, por fim, puxar aquele saco (haha) teve uma mãozinha da densidade salvada (salgada, apegada, sentida, magoada, frustrada) daquele líquido. Lágrimas arrancadas de um ego em desconstrução, a lamúria do desconforto causado por um enredo improvisado ao invés do planejado.

A garrafa onde eu vivi foi se enchendo de lágrimas e eu fui ficando pequena, perdida, pesada, palavra. Imergi com muito esforço e vi por cima do gargalo um mundo que ninguém me apresentou. Seria ali minha nova morada. Normalizei o sentimento de medo, associando-o não ao perigo, mas ao mero desconhecido. (Coragem não é falta do medo)

Hoje eu sigo a filosofia da encruzilhada: minha alegria contém dor e minha tristeza se sustenta por graças. E não acabou: à medida que me permiti me acolher e me ouvir, meu corpo adoeceu e perdi o fio da meada. Onde ansiei por um galope num viçoso campo aberto tive uma sequência de quedas e tropeços (trancos e barrancos) por um caminho tortuoso, exaustivo, escorregadio e sintuoso.

Me entendo no quarto (vago, fraco, leve, vil) renascimento. A maternidade me desfez, migrar me oprimiu, separar me estilhaçou, adoecer me murchou. Mas nada disso me reprimiu: há uma alma que une o pó do que restou, e ela brilha, cresce, sente, chora e ri enquanto o ego se atrapalha. Parece que a alminha falou mais alto e, no momento, paramos de esperar e passamos a viver.

Ora, o ontem não me pertence, o amanhã me decepcionou tanto e tão repetidas vezes que o deixei. Sobrou o agora, que oscila entre brando, leve, bobo, triste, exausto ou dolorido, mas vejam só: ele sempre se vai, se esvai, se finda; já a alma fica.

Essa semana completo meus 39 anos. O branco da paz eu só vejo em sonhos. Venho aprendendo a desacelerar cada dia mais, olhar o caminho com compaixão, honrar a jornada com orgulho e arriscar saltinhos dançantes entre um e outro passo cambaleantes.

Civi na metade do sexto setênio sem paz, porém mais calma que nunca

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Como (me) ser? Como se faz?

De quantas dores você se fez? Dores físicas, desconforto, paralisia, desencanto?

Por aqui tenho uma mente tagarela e cruel. Auto punição e julgamento, busca de lógica onde não há, pequenos loops me levando de lugar algum a nenhum lugar, avalanche de ideias não relacionadas concomitantes e muitos outros nada-irrisórios sintomas de quem simplesmente não se deixou e aceitou apenas estar (aqui e agora).

Parei de escrever sobre minhas ideias quando me tornei mãe, passei a escrever sobre a cria que me inspirava. Vida nova e poesia: renascer com ela, me moldar, me estranhar, me abandonar, me perder de vista — e depois sentir minha falta, me buscar e terminar desfazendo tudo o que eu conhecia como segurança (repetidas vezes, enquanto houvesse algo). E quando só havia pó eu me pus a chorar. O choro dolorido se tornou uma tribo, um ar, um punhado de sentimentos novos e no fim um lar, sempre — as vezes a duras penas — acolhendo a tristeza latente.

Dor. Dizem que por ela acessamos o que somos. Depois de me multiplicar, me transformar e finalmente me perder, me presenteei com uma perspectiva de um enorme nada. Porém, esse nada dizia apenas do desconhecido, ‘nada’ que eu, ex-controladora, fosse capaz de prever. Porém o vazio estrutural se transformou numa infinidade de possibilidades. A única coisa que não deixo de ser: a mãe da Luiza — a menina que veio a ser o meu ponto de partida.

Luizoca Pipoca 6 anos

Problematizo tudo, porém problematizo com ainda mais afinco a maternidade compulsória e o amor materno natural e inato. Um médico que me acompanhava na gestação me deu o aval (porque tem que ter chancela pra autorizar /ironia) de construir meu amor pela minha filha dia após dia, como fiz com outras pessoas. E avassaladoramente veio esse pequeno ser me dilacerando e me fazendo desmontar o que existia pra ser (outro?) alguém — por ela, pra ela e, quando dá, com ela.

Depois de migrar em família desfiz — desfizemos! — um relacionamento de 12 anos, com a as bêncaos dos deuses. [Aceitar o fim de um ciclo é uma grande dádiva que nos liberta de uma vida que poderia ser desastrosa. Poderia não ser, mas não sabemos porque escolhemos o desfecho :}] Encaramos uma dor, quase do tamanho do amor pela miúda, que se alastrou por meses ou anos, nem sei… [e alguém sabe contar tempo pós pandemia?] Eu só sei que passou. As vezes mais, as vezes menos. Dia após dia reconstruir uma outra relação familiar sem o componente romântico entre os pais. Me recompor e me centrar pra tentar descobrir , por debaixo das diversas camadas pensantes: eu?

Viajando sem ela mas tirando foto pra ela

Perdi as contas de quantos insights, por vezes contraditórios, vieram delineando esse esboço da mulher que sou. [Há muito pouco tempo me permitindo, ainda com certa estranheza, me chamar de mulher… como se finalmente tivesse aceitado crescer.] I am a free lady trapped by the system, repito pra mim e pros outros quando algo não-previsto ou não-convencional passa por mim. De fato estamos todos de alguma forma ligados / presos a um sistema que nos impede de reconhecer e conhecer o lado de lá do espelho.

O bom e velho: eu não sei o que quero, mas sei o que não quero. Tenho menos saúde — Gracias long Covid. Porém: tenho mais leveza, aceito menos cobranças, sou mais debochada, menos articulada, mais curiosa, menos conectada… e tenho uma amável facilidade em me conectar com minha filha, e isso muitas vezes a única coisa que realmente me importa.

Com quantas dores você se fez? Qual a forma do seu acalento? O meu continua perdido, no entanto o percebo um cadiquim no sorriso (atualmente) banguela dela. Aquela que um dia há de se orgulhar de uma mamãe que ousou fazer um tudo de coisas fora do script. Doa o que doer.

O resto é consequência.

PS: 2022 e pelo visto ainda escrevo sobre maternar.

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Pacificamente Desajustada

Originalmente postado em 17.11.2019

No meu finado, perdido e, até o dado momento, irrecuperável blog eu mencionei por diversas vezes o estado do migrante de não ser daqui nem de lá. Meu pai costumava me dizer quando criança que isso traria uma permanente insatisfação. Hoje ele mesmo migrou — mais de uma vez — e eu me percebi alinhada e confortável com o sentimento sou-de-lugar-nenhum.

o lado de lá daqui

Tenho uma ligação forte com alguns lugares específicos, uns conhecidos outros ainda não. Minha crendice/espiritualidade me convence que a conexão vem de outros planos enquanto minha inadequação e inquietação se sustentam onde quer que eu vá. E independente da conexão, eu amo viajar e poder ver gente e culturas diferentes do que sei.

Quem me conhece bem sabe que tenho dificuldade com algumas dualidades e fonemas específicos, aprendo devagar e quando falo misturo esquerda com direita, antes com depois, água com égua, sem vergonhice com coragem e beber com comer; opostos ou similares, nenhum termo será salvo. Feio, bonito, errado, certo, devagar, lento, limpo e sujo ganham significados únicos dentro de 6 bilhões de cabeças, moldados por seus respectivos repertórios.

Eu, business-bruxa e executiva-podicrê, que dou risada falando sério e choro de alegria, passei os últimos dias em trânsito entre reuniões de trabalho, relatórios importantes (pra quem?), uma saudade do tamanho do planeta e reencontros mágicos, somando pontinhos e criando conexões pra minha vidinha.

Encontrei uma prima incrível que não via há pelo menos 2 décadas, reencontrei meu best friend da época da faculdade e padrinho de casamento, não vejo minha filha há mais de 3 semanas (e ela está sapeca e plena visitando a família), conheci pessoas que deram faces à um parceiro de trabalho de mais de 2 anos, em breve eu pisarei no quarto país em 30 dias e vejo claramente mais um turbilhão de trabalho pela frente. Estou feliz, triste, animada, estressada? Não, sim, plenamente, certamente e de forma alguma. E tudo bem; o confuso me soa realização pessoal. O estresse de trabalho incluído, com a lindeza de saber que é só trabalho.

Por uma série de motivos e acontecimentos somados à terapia e treinamentos tive a graça de entender que meus sentimentos não são quem eu sou. Tenho raros picos de alegria, normalmente em shows de rock ou num parque debaixo do sol com minha família. No restante do tempo eu aceito, confio, entrego e agradeço, o resultado é paz.

Sair dessa linha de raciocínio as vezes acontece, errar faz parte do aprendizado dá graça à vida. Vai ver meu finado Blog morreu pra ninguém mais precisar ler o que não era mais eu.

Desculpa se disse bobagem, é que não sou daqui (marinheiro só).

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Percepções redefinidas

Aprendi a ler antes dos 4 anos brincando com as cartilhas da minha irmã. Tinha pavor da alfabetização precoce porque a minha aparentemente me gerou, basicamente, estresse. Tenho diversas memórias na infância que hoje entendo como cobranças desnecessárias, pois eu era tida como uma promessa de “sucesso”; e simplesmente sou uma pessoa bem mediana que questiona os o que chamam por aí de sucesso.

Pois bem, minha filha com 1 ano e meio brincava de ler a marca na lona da piscina “pi-shi-na vo-vô”, passou a perguntar o que tava escrito em tudo que queria e memorizou as letras pouco antes de fazer 2, isso sem estímulo intencional à alfabetização. Luiza memorizou sei lá quantas logomarcas porque apontava pra faixada das lojas e perguntava “que mercado é esse?”, eu só respondia. Em seguida a gente tomava o ônibus e ela ia berrando “olha o Lidl! Olha o Rewe! Olha a DM! O banco do papai! Aquela moça tem uma sacola do Edeka!”, Eu gargalhava com um mix de roxa-de-vergonha e morta-de-orgulho daquele bebê de fralda apresentando as lojas pelo caminho.

Comecei a dar uma surtadinha basica e, nas conversas com amigos, eu entendi que não responder quando ela pergunta é um desrespeito ao interesse dela e que eventuais malefícios viriam da imposição do aprendizado, eventualmente também da cobrança de uma genialidade por parte dela.

Agora estamos chegando a 3 anos e meio, ela pega o lápis de cor e escreve a letra A ou S, ela pega o meu telefone quando toca e já me avisa quem tá ligando e vez por outra me traz umas pérolas, tipo dizer que na capa do livro tá escrito Margô (o sobrenome do autor é Ca’margo’) e dizer que o Terno “é com a mesma letra da Lanterna”. Eu acho graça, sinto um orgulhinho e não tento impulsionar mais, seguindo o ritmo da curiosidade dela.

Na Alemanha não há alfabetização antes dos 5-6 anos, quando as crianças vão pra escola, ela tá na Kita e o dia é preenchido com passeios, música, histórias e brincadeiras. Mesmo assim se eu falar no verão “in Sommer” Ela me diz “mamãe, é im Sommer, com M assim” fazendo um M de libra, que não faço ideia com quem ela tá aprendendo, haha.

Segue o baile…  Eu tava com uma lista de compras na mão e a Luiza pediu pra escrever. Eu falei “tá, escreve seu nome”, isso foi há umas três semanas. Não é que ela escreveu? Ela tem 3,5 anos, saiu um Z zoado e conhecendo minha cria, sei que ela se embananou no A por conta disso. Eu fiquei embasbacada sem querer fazer muito alarde pra não inibí-la.

Semanas depois eu disse pra ela que minha amiga que estava nos visitando também amava as letras e sugeri que ela escrevesse o nome de novo. Ela, bem serelepe, pegou o giz de cera e mandou esse L “pequenininho pequenininho” o U assim do lado e assim por diante, narrando a tarefa. No fim ela perguntou, “mas mamãe isso aqui não é um C?” apontando pro Z dela. Eu disse que o Z é bem difícil de fazer mesmo, mas que o dela estava excelente pra idade dela, mostrei com o giz vermelho como tinha sim um Z ali.

Luiza me vira do avesso e redefiniu minhas certezas. E eu, que ainda brigo comigo mesma pra definir minhas levezas, vou levando esses cutucões e torcendo pra seguirmos nosso caminho tranquilamente, pacientemente, naturalmente… E assim ela continuar a me ensinar.

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Perolinhas

3 anos e 3 meses. Uma metralhadora de conceitos emaranhados no que ela ouve por aí. Muito “certo e errado” e um perfilzinho analítico e detalhista querendo argumentar.

…….

Depois do banho perguntei se Luiza queria ficar mais uns minutinhos brincando na banheira. Quantos?
– Dez!
Saí, voltei, conversei com ela, fui na cozinha, voltei, falei com ela de novo, e de repente voltei sem falar nada e ela faz uma cara seríssima:
– Não passou dez ainda!! Eu tava contando!!
– Ah, tudo bem, devo ter me distraído. Quantos minutos faltam, filha?
– Vinte!
…………………………

– Filha, quer ver o Pinocchio antes de dormir?
– Sim! A Tanis da minha Kita fala Quinóquio. Ela fala errado, Pinocchio não é com Q, é com P!
– Que fofa!
– É mamãe, ela fala errado. Quinóquio. É errado.
– É porque ela é pequena, filha. Quando você era pequenininha e chamava o elefante de Tutu não era errado, era só seu jeito de falar. Você tava aprendendo ainda.
– Mas mamãe, Quinóquio é errado – gesticulando muito.
– Você acha, filha? E Pelevisão?
– Pelevisão é certo!

…………………………

— Mamãe, o que é isso branco aqui no seu cabelo?
— Isso é meu cabelo mesmo, são os cabelos brancos que você me deu.
— eu acho que eu não te dei não, eu acho que eles estavam aí mesmo.
…………………………

Botando pijama na miúda e conversando sobre as coisas que ela não precisa fazer:
— você já é craque, filha. A mamãe foi aprender essas coisas grande já. Sabe quando?
— hum? (Olhar muito interessado)
— com quase 30 anos.
— Trinta mamãe? Igual minutos?

*Dessa vez eu gargalhei*

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Tava botando o tênis da pequena, percebi um nó e dei uma reclamada: “putz, esse aqui tem um nó”. Ela:
– um nós?
– não, filha, um nó.
– um nossa?
(Eu compenetrada tentando desfazer o bendito – um nó.
– um “noch”? – (significa “ainda” em alemão).
– hahahaha, não, filha, um nózinho.

Luiza, a sabidinha de 2 anos e 9 meses, sendo apresentada, sob pressa contra-produtiva, ao conceito de nó ❤

#luizileaks

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Págens

Luiza um dia começou a chamar as páginas do livro de “págens”. Eu corrigi. Desde então ela fala página pra tudo que tá afim. Se bem conheço minha cria, deve ter uma lógica, mas ainda nao captei.

“Mamãe, essa é a página do metrô”, enquanto anda pela estacão.
“Mamãe olha aqui essa página” vendo o rótulo de um produto.
“essa é a página da piscina” olhando a placa da entrada.

A confusão permanece, porque ela acha que a língua com a qual nos comunicamos se chama Alemanha e se refere ao alemão que ela fala na Kita como Deutsch. Acho justo, mas fico meio perdida se corrijo ou não – principalmente porque já tentei e não adiantou.

Ideias?

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Kaputt geworden

Luiza, quase 32 meses, com o bilinguismo batendo forte.

Sobe no sofá e diz “Ich versuche nochmal” (eu tento de novo)
depois de dez tentativas ela quase toma um tombo e fala repetidamente “ich xxxxxx kaputt, ich xxxxxx kaputt, ich xxxxxx kaputt!”
Sem entender eu falo:
– Filha, fala em Alemanha – pois ela chama alemão de Deutsch e Português de Alemanha.
– Eu CAPUTEI! (eu capotei)

E mais associações maravilhosas estão por vir… haha

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