Capítulo 2
Cheguei à Baía de Quiel na Quinta-feira passada, Faltavam 18 Minutos pras 10, que era meu horário de apresentação no hospital, ou ‘Clinica de Dor’ em livre tradução. Gmaps me diz que sao 30 min de ônibus ou 15 de carro. Compro um café, tomo um Taxi. No caminho o motorista pergunta se tenho enxaqueca, conto que sim e vou às lágrimas quando digo estar cansada. Ele fala pra ter esperança. Bem… leia o post anterior.
Chego à Schmerzklinik e me apresento às 10:04. Quem mora aqui sabe como na Alemanha TUDO é papel. Me deram muitos papéis. Contrato, explicação, cronograma, senha, QR code, livreto, planilha, questionário, lista, sei lá mais o que e tudo tava muito difícil. Sobe aqui, vira à esquerda, não se preocupe, minha colega vai te direcionar, pode deixar a mala, assina aqui, terceiro andar, volta no primeiro, jantar no segundo, a lista do almoço está à direita, vão levar no quarto (oi?)… eu só apertava ozóio – a essa altura concordar com a cabeça engatilha enxaqueca.
Fui falar com o médico na hora do almoço e a sala estava muito clara. Pedi pra pararmos depois de algum tempo porque estava com fome e a claridade estava forte demais pra mim, fiquei atordoada. Ele disse que voltaria pra me visitar amanhã, embora não o façam às sextas. Dei uma volta fora do prédio. “Parece Münster”, pensei.
Sexta-feira foi outro dia com o “freio de mão puxado”. Entendendo quase nada, pedindo pra repetir, óculos de sol na cara. Tomei uma medicação que indicaram pra retardar a dor e melhorei. Tive um fim de dia razoável e início de sábado bem bom. O fim do sábado porém não perdoou…
Pois bem, como manda o figurino: tive a bendita enxaqueca no hospital de enxaqueca. Fiquei zureta como uma barata tonta, enclausuradinha no breu achando que tava fazendo algo muitíssimo errado [aguardem o próximo post]. No Domingo pela manhã tomei a medicação indicada pelo médico e desde então passei a entender o que se passa ao meu redor com certa suavidade e uma facilidade razoável pro padrão pessoa-latino-americana X Alemanha. E assim que entro na normalidade percebo que o quadro dos dias anteriores me dava acesso a uns 15% da minha capacidade de raciocínio, quiçá 20%.
Aqui temos Seminários sobre nutrição, técnicas de relaxamento, treinos para fortalecimento das costas, yoga, Qigong, gerenciamento de estresse, Psico e Fisioterapia mais uma gama de outras atividades opcionais. Além disso, os altamente recomendáveis/mandatórios: exames de pressão, laboratoriais, acompanhamentos médicos, preenchimento da tabelinha com indicação do nível de dor e DESCANSO – já que dentre os principais fatores dentre os inúmeros desencadeadores da enxaqueca… um deles é o estresse.
Há dois dias consigo me alongar quando acordo. Um pouco porque ainda fico levemente zonza ou unbalanciert, como dizem aqui. Ontem (Segunda-feira) consegui fazer um pouco de esporte, hoje mais um cadiquim. Repassei a papelada que recebi na Quinta-feira e entendi tudo o que vi. Temos uma vista lindíssima do prédio e a paz e o silêncio reinam quase o tempo todo. Várias informações muito relevantes já foram pras minhas anotações e uma pequena luz no fim do túnel se acendeu, outras se apagaram.
Falei pro médico hoje que ele está a par do meu processo completo, pródromo, aura, ataque e o que ele chamou de “post migraine honeymoon”. Nos últimos 8 meses, porém eu vinha pulando a última fase ou a substituindo por ansiedade/medo do próximo ataque.
Acolhimento? Nem tanto. Validação? Sim. Atenção? Nhé. A propósito, agora com o cérebro em algum lugar acima dos 80% da capacidade – não parece Münster ne de longe. Nem de cabeça pra baixo.
E continua…