Maternagem Eterna

Tento fazer do meu blog algo além da maternagem, mas não por acaso tenho sido mãe 24h por dia. E nunca pensei que essa tarefa fosse me pertencer, muito menos ~tomar tanto tempo na minha vida. Porque mesmo quando eu estou estudando, quando estou escrevendo, quando estou passeando, eu sou mamãe. E minha prioridade 1 na vida é ter uma cria saudável; a número dois é tentar ajudá-la a se tornar um adulto forte, de caráter e, acima de tudo, humano.

Depois disso vem aquela parte de diversão, grana, carreira (hahaha) e sei lá mais o quê. Claro que a gente não pausa uma parte da vida pra viver outra, mas é nítido como atualmente tudo gira em torno do bem estar da nossa família.

Pois bem, eu parei de amamentar a Luiza faz uns 2 ou 3 meses, eu não sei ao certo. Não planejei o desmame e acabei não memorizando a data em que ele aconteceu. Desde então eu convivo com muitas mães que ainda amamentam, com filhos – em sua maioria – menores que Luiza, e sempre me vejo tentando falar algo sobre a minha experiência, embora eu tenha convicção de que não necessariamente vai ajudar. Daí entra o meu exercício de empatia e acolhimento – e menos falação.

Mas aqui é meu lugar de falação, hehe.

Não vejo obrigatoriedade da amamentação e agradeço aos céus por ter amamentado a Luiza tanto tempo, mesmo achando que, na minha percepção pessoal, não parece tanto tempo assim. Cada caso é um caso, e o meu por sorte foi muito mais suave do que vejo por aí.

Sim, houveram incontáveis noites em que ela acordava incontáveis vezes. E ela mamava e eu dormia. Em várias ocasiões ela também doriu na própria caminha até 3 ou 4 da manhã, pra depois acordar 5-9 vezes antes das 8h. Eu não fiquei sã o tempo todo, as vezes eu ficava bem cansada. Mas daí eu pensava no quanto ela ia ser bebê por pouco tempo. Eu mesma tô aqui com 33 anos e só mamei até os 3. Depois passei a dar outros tipos de trabalho pra minha mãe :)

Agora estamos numa fase super tranquila. O Terrible Two é uma grande piada por aqui, ela chora pra fazer coisas que já estão em curso, mas também para logo. Quer fazer tudo sozinha. Na maioria das vezes eu deixo, e pronto. As vezes ela chora porque não quer que eu escove os dentes dela, mas em 20 segundos ela abre a boca e se contenta em segurar a ponta da escova. Eu tenho um anjinho, ela é um amor, ela passa dias sem chorar, consegue se comunicar muito bem e isso diminui bem sua frustração ; talvez por isso ela chore pouco. Confesso que tentei me preparer pra algo muito pior.

Ela no mundo

Mas como se sabe, cada um sabe a dor e a delícia da sua própria vida, e por aqui eu aprendi a agradecer pelas bênçãos, pelas tretas e entender que tudo é normal. Vai ter dia difícil, vai ter dia mágico e faz parte da vida, então me altero pouco. Imagino que, por uma eventualidade, a vida pode acabar aqui, amanhã, ou daqui a 100 anos, e não quero estar pensando que estava me lamentando. É um exercício pesado no início, mas eu me acostumei e hoje agradeço até pelas chuvas e pelas meias rasgadas.

E em dias terríveis de decepções, mortes, desesperanças políticas, impasses… nada melhor do que ter um amor imenso sorrindo e dando esperanças de que em algum momento estes seres de luz vão fazer o mundo brilhar.

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Natgeo Berlim

Numa manhã comum, fomos levar a pequenina de bike pro KiTa. Fomos os dois, pois no sistema deles a cada semana uma das crianças leva o café da manhã, portanto a cada 10 semanas somos nós. Fui, então, levando as compras e Fabrício foi levando a pequena.

Saindo de lá, flagramos um Corvo atacando, matando, depenando e comendo um pardal. Anteontem eu tinha visto um outro corvo comendo um pombo que estava recém morto e pra mim foi suficientemente perturbador. O de ontem foi um pouco mais intenso.

Em seguida, voltando pra casa, passamos em frente a um parque no quarteirão de baixo e vi uma raposa. Gritei pro Fabricio olhar e, não sei se por isso ou pelo movimento das bicicletas, ela recuou e ficou olhando a gente passar.

Voltei pra casa quase tão eufórica quanto a vez que estava em Pipa vi um golfinho pelo qual eu não estava procurando nem esperando, hahaha. Quase esqueci aquele corvo…

É muita emoção na vida do imigrante, e tudo antes das 9h00.

Natgeo Berlin

E a aventura continua.

PS: uma vez eu vi um carcará atacando um joao de barro e destruindo a casinha pra alcançá-lo. Também não achei bonito.

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Renovação

Passamos alguns dias sem post com a visita do tio Dindo da Luiza aqui em Berlin. Tenho muito orgulho de ver como o tempo passa e a pequena nutre o amor pelos familiares apesar da distância, e entende como precisa aproveitar a presença, pois estão nos visitando – ou seja, vão voltar pro Brasil em breve.

Isso significa que ela passa os dias com um excelente humor, distribui abraços, sorrisos, faz graça e no fim se despede sem choro, com abraço forte e muito carinho. A gente acha que ela tem uma tristezinha nos dias que se seguem, que acaba sendo demonstrada com dificuldade de sono e um pouquinho de choro, mas ela não questiona a condição de estarmos aqui e eles não.

Eu acho que já mencionei isso aqui (to com vestígio de enxaqueca e muita preguiça pra me certificar, sorry), mas acredito que a Luiza crescendo com acesso a duas línguas e meia, tendo uma cultura dentro de casa e outra na rua, com horas de Skype, visitas e amor, vai ter uma construção diferente da nossa quando se trata de saudade e distância.

Eu assimilei que as vezes estamos próximos das pessoas fisicamente, mas o coração tá distante… e vice-versa. Porém eu assimilei isso com quase 30 anos, já ela tem 2 e é assim que tento ensinar. Fico feliz quando ela, espontaneamente, no meio da nossa oração, agradece pela casa nova, pelo metrô de Berlin, pela neve e pelos avós e tios. São indícios de que ela ama tudo que a cerca por aqui, e tudo que deixamos lá.

Recentemente fui buscá-la no Kita e ela pediu pra dar um abraço numa das cuidadoras antes de ir. O abraço levou tanto tempo pra terminar que fiquei levemente constrangida, mas a Soledad (sim, ela é chilena e muito amorosa!!) parecia estar curtindo aquele abração sem fim tanto quanto a Luiza… O constrangimento virou orgulho e gratidão.

Receber gente que amamos na nossa casa, no país que escolhemos e nos escolheu, é revigorante e acalentador. Continuamos lutando pelo nosso espacinho aqui, pela integração, conhecendo mais gente, mais lugares e felizes e pelo que vem acontecendo no nosso percurso.

Danke, Deutschland!

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Eis

Essa semana eu tive prova do curso de alemão. Tô basicamente na metade do que seria o nível básico de alemão.
Minha maior satisfação foi saber tudo o que estava sendo dito na prova inteira e entender as questões. O bônus foi ver os colegas que eu acho que falam muito melhor do que eu me pedindo cola, hahahaha.

Eu percebi que realmente tenho uma afinidade com a gramática, pelo menos no nível básico que tenho sido apresentada. Os fonemas estão se tornando mais familiares, porém preciso ainda de muitas horas diárias pra criar a memória auditiva. O fato de sermos uma família brasileira é maravilhoso em mil aspectos, principalmente pela certeza de que Luiza jamais perderá o português que ela exercita com a gente. Mas passo 90% do tempo vivendo em Português, e isso “atrasa” o desenvolvimento da terceira língua.

Não posso dizer, porém, que não estou satisfeita. Hoje eu me vi na mesma sorveteria que estive há 6 meses. Da primeira vez eu não fazia a menor idéia do que eram os nomes dos sabores e a minha amiga precisou pedir pra gente. Hoje eu entrei, na fila captei algumas conversas, ri do vendedor brincando com as crianças, compreendi os sabores, escolhi, pedi certinho, educada, respondi as perguntinhas básicas do atendimento (tipo copo ou casquinha!) e me despedi agradecendo aos céus por saber como as coisas mudam.

Além disso, tenho me percebido uma fã incondicional do meu quarteirão e seus arredores. A sorveteria natureba, a cafeteria famosa, os restaurantes deliciosos, os bolos do café da esquina, o visual do restaurante/livraria, as galerias de arte, a padoca de 130 anos… E morro de emoção quando reconheço alguém com quem já troquei um bom dia ou pedi uma informação andando aqui no bairro. É muito bom se sentir em casa poucos meses após mudar de continente.

Talvez seja pela minha cerveja favorita, talvez pelo queijo divino que comprei na promoção por menos de 2$ ali no mercado. Talvez seja pelo sol que saiu hoje e deu um sample de primavera, pela visita do cunhado ou porque mamãe e irmã jajá estão chegando também pra visitar… O mais provável é que, pela soma de tudo e por um tanto mais que tem acontecido: estou feliz como há muito não me sentia.

Ich freue mich auf die Zukunft.

https://www.instagram.com/p/BRLvXNUDxcl/?taken-by=civinhal

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Birra 3/2017

Nota de quando a sagitariana de quase 26 meses (que desmamou há 5 dias) pede mamá depois do almoço, quando é normalmente a hora da soneca.
Lembrei a ela que acabou. Ela não disse nada. Comemos mais, depois deitei com ela. Eu contei história, ela continuou inquieta e pediu leite. Nós levantamos, vimos desenho, ela quis ficar sozinha e de pé, larguei lá, fiquei vendo de longe os olhinhos relutantes e baixos de sono. Deitou, resmungou… mas não pediu nada. Pouco antes das 16:00 (3 horas de “atraso” do sono) ela disse que queria sair, mas não queria por roupa. Daí pediu mingau. Eu fiz o mingau e ela começou um choro nível 10, inconsolável, falando que não queria. Choro e urro, nervosismo extremo. Depois de mais de 20 min comigo oscilando entre o desespero e a ignorância em meio aos berros eu a peguei no colo pela décima vez e falei: “OK vamos sair”. Ela se acalmou, “quelo saí”. E os olhinhos fecharam. “Filha, você não quer sair, você tá com sono, precisa dormir”. Gritos de novo. “OK, vamos sair. Vamos sair…(sussurrando)… A gente vai sair de carrinho. Vamos sair… Vamos sair…”
Foto do resultado.

no colo
Exaustão
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