25 meses e 19 dias

Faz 3 dias que Luiza fala “a mamãe não levou a Luiza no parquinho” vez por outra.

Hoje ela acordou da soneca e eu perguntei se ela queria ir, ela disse que não. Mencionei uns 3 diferentes. Nada.

Daí pergunto se ela quer ir na piscina, ela topa. Fomos, nos divertimos um monte, ela tomou dois caldos sem chorar, correu, pulou na água trocentas vezes, atravessou a piscina sozinha, até que pediu pra ir embora.

De lá fomos no mercado, que é quase de frente – e que ela adora. Levou bichinho, perdeu, achou, comeu, cantou, pediu guloseimas, disse “obaaaa” mil vezes.

Do mercado pra casa passamos no banco. Lá ela disse que queria brincar no iPad quando chegasse. Chegando em casa ela comeu mais, brincou no iPad, disse “eu te amo auau” pro cachorro do Playkids. Pediu pra dormir rapidinho.

Enquanto visto o pijama, pouco antes de dormir ela olha pra mim e diz: “mamãe não levou a Luiza no parquinho”

Fim.

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Pra lembrar

Ainda sobre a conversa desconexa da Luiza antes de dormir: Ontem ela gritou MACACO, MACACO, MACACO, MACACOW, QUERO MAMAR MAMÃE, e eu caí na risada… Agora ela disse “ali mamãe, Berlim! O Berlim, o Berlim!!!” Apontando com o dedinho pro teto. Sempre de olhos fechados. Adoro.

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Lidl, parquinho, domingo

Luiza descabelada de pijama e carinha de sono, recém acordada:
– filha, sabe onde a mamãe quer ir hoje?
– no Lidl (um dos mercados aqui perto)
– não filha, hoje é domingo, o Lidl está fechado.
– domingo (seríssima)
– sim, hoje é domingo, mamãe quer ir pro par…
– qui-nhooooooo!
– isso, hoje é domingo e mamãe vai pro parquinho
– mamãe vai pro domingo e vai pro parquinho
– hoje é domingo e a gente vai pro parquinho
– a gente vai pro domingo, mamãe!

Introdução aos dias da semana com a mini pessoa que adora palavras novas.

Aprendiz
Essa semana a Telesão virou “Pelevi-são”
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Monólogos

Acordou faz uns 20 min e não parou de falar/cantar um instante. Dentre as pérolas:
“O Papai não tem mamá”
“A cabana chama o castelo”
“Mamãe, acho que a zebra voou”
“Oooolha! Um monte de azul! Azul é blau blau blau”
“Cadê o Papai?” (Foi pra aula)
“Eu tô sem Papai!!” (Abrindo os braços com as palmas da mão pra cima forjando um desespero)
“galinha, o Papai vai voltando”
“Eu quelo pizza de prato roxo”
“A mamãe é muito grande”
Sobe na cama, vai até a beirada e diz “como que você desce agora?”
“Deixei a amalela na cadeila do blau” (o imã amarelo na cadeira azul)

Teremos um longo dia pela frente :)

Luiza descobriu que os ímãs colam na cadeira
Luiza descobriu que os ímãs colam na cadeira
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Minha Bolha

Eu não diria que choro de saudade. Sou chorona, mas o que dispara meu choro normalmente é a lindeza, não o sorfimento. Eu chorei por diversas vezes desde que pus meus pés em Berlim e, confesso que, na maioria das vezes, o motivo era uma luz dourada batendo num prédio bonito, uma cena cheia de humanidade ou o desenho do horizonte harmonizando com o céu.

Por herança espiritual ou criação (ou por nenhum motivo) eu nunca fui daquelas pessoas que antes da terceira cerveja beija/abraça/distribui contato físico aleatoriamente sem constrangimento. As pessoas precisavam de um certo status na minha cabeça pra invadirem a bolha que delineava meu espaço físico. Ironicamente eu fiz muitos amigos explicando/satirizando minha Teoria da Bolha no fim dos anos 90 e início dos anos 2000.

Com isso, por anos tive a percepção de que não gostava de gente – que na verdade é de longe o meu maior interesse. Levei um bom tempo entendendo que cada coisa é uma coisa e passei a me expressar melhor – e melhor ainda por escrito. Meus abraços existem, são ótimos e os distribuo às pessoas mais queridas do meu mundo.

Eu acredito na capacidade de resiliência das pessoas e, de certo modo, na reprogramação que podemos fazer ao buscarmos novos significados para as sensações de sempre. Não desmereço nenhuma dor e acho que toda ressignificação real acontece de forma gradativa; com entendimento, aceitação, busca interna e por fim a vivência (ou Entrego-Confio-Aceito-Agradeço). Vejam que, quando enumero o processo, não tenho nenhuma propriedade para instaurar tais etapas como verdade. É uma mera análise do que minha terapia me ensinou e como eu consigo lidar com as adversidades automaticamente hoje em dia.

Quando sinto saudade e meus olhos se enchem de lágrimas eu foco na percepção de que é um privilégio poder estar aqui do outro lado do Atlântico, com mil planos e no meio de tanta coisa nova pra aprender e me inspirar. No fim sinto gratidão por ter gente tão querida que me deixa marcas tão positivas na existência e dou um sorriso. Em poucas ocasiões a angústia veio, mas foi assim que a mandei embora… com amor.

Já disse disse que temos sofá cama? Aguardando visitas e abraços.

Desse jeito
Desse jeito
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Vocabulário dos 23 meses

Eu venho fazendo notas mentais das maravilhas que Luiza diz, porém já faz um tempo que ela tem muita propriedade pra dizer o que quer, e a dicção está cada dia mais “adulta” (o que é engraçado pelo tamanico dela e meio triste pois ela raramente solta um termo bebezento). Sendo assim, por escrito perde toda a graça; não tem como demonstrar a entonação, a pequenez da voz nem os trejeitinhos.

Enfim nos últimos dias, talvez pelo excesso de informação que ela vem recebendo, o cérebro da pequena começou a dar uns nós. Daí eu penso: agora sim temos conteúdo pra um post, haha.

Luiza tem confundido a palavra consegui com consertei. Com isso ela tenta subir em algo e fala “eu não conserto”. Termina um quebra cabeça e fala “eu consertei” – o que faz todo o sentido do mundo. E quando o pai põe pilha em algo ela fala que ele consegou.

“Tá” e “Já” também estão dando trabalho. “Eu tá acordei, mamãe”. “O Bebel já dormindo, Golias já dormindo, Papai já dormindo…”.

Ela confunde a tia Joice com o George irmão da Peppa. Então vê a foto da tia e fala “tia George”. Essa semana encontramos a tia Ju e o tio Guigo, ela chegou em casa perguntando pela tia Gugu.

Eu a vi carregando uma sacola de mercado com estampa de gato. “Filha, onde você vai com a bolsa do gatinho?”. E ela responde “É sacola” (hahah). Outro dia ela queria perguntar sobre, mas esqueceu a palavra, daí disse “cadê aaaa… aaaa… aaaa… aaa… a caixa do gatinho?”. Sim, porque na sacola se guardam as coisas, assim como na caixa. Justíssima troca.

Até um dia desses ela dizia Dipuca quando queria falar desculpa. Agora é deculpa. Reconhece a letra U pra todo lado que vai, por conta do metrô daqui. Adora números, eu digo: “olha filha! Dois gatinhos!” e ela olha pros mesmos dois e diz “olha, quatro gatinhos!”. Papai fez dez anos, tia dinda tem quatro.

Essa noite ela estava um pouco febril e às 3h00 da manhã sentou na cama e disse “quelo ver Pocoyo na telesão” e ela mesmo respondeu “Telesão tá istagado. Não. Telesão tá dumindo, tá cansado… Papai tá cansado, Luiza tá cansado, a Galinha Pitadiha tá cansado… telesão tá cansado…”

A falação não pára durante o sono. Entre uma virada e outra ela balbucia coisas como “eu quelo dançar na sala”, “melancia”, “a bolinha lalanja caiu”, “cuidado Qua-qua!” e um quase que diário “papaiiiii? papaiiii?” seguido de nada.

Nós 3
Nós 3

Em menos de um mês completaremos 2 anos dessa viagem louca que é ser mãe/pai/filha. Ela nos encoraja e alegra todos os dias, nos dá novas perspectivas pra todos os olhares e ajuda a trazer paz pros nossos corações. Todos os dias. A gratidão só aumenta, o amor também.

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Dois lados de uma mesma moeda

PRIMEIRO ATO

Ontem fomos ao Jungenamt atrás do Kita Gutschein pra podermos colocar Luiza no KiTa.

(Viram como eu disse ali umas palavras que só fazem sentido aqui? Pois é, essa é minha esperança. Eu vou aprender alemão, aguarde e confie)

O Jungenamt é o nosso juizado de menores e, ao contrário do Brasil, pra matricular um filho na escolinha (Kita) devemos ter uma “autorização” – literalmente um voucher (Gutschein) – dizendo por quantas horas você pode deixá-lo lá. Posso estar perdendo alguns pontos da explicação, mas basicamente é isso.

Daí uma amiga me ajudou preenchendo os documentos online e eu reuni todos os dados necessários (registro de residência na cidade, cópias de passaporte e matrícula no curso de alemão – ainda faltou o documento que comprova o trabalho do Fabricio). Sim, amigos, estamos num país extremamente burocrático. A diferença é que aqui a burocracia não é redundante, ela é extensa porém direta.

Enfim, depois de um grande esforço pra entender onde era o local onde eu deveria entregar a documentação, jogamos o endereço no Google Maps nosso mais fiel escudeiro e tomamos dois ônibus até lá. Chegamos cerca de 20 min antes do fim do horário de atendimento. No primeiro ponto eu perguntei se podia falar inglês, o rapaz me respondeu que não – em alemão, claro. Apontei pro documento que eu tinha em mãos e ele me respondeu em inglês pra eu ir até o Infopoint.

Sim, eles me parecem confusos às vezes.

No Infopoint, que era bem na porta desse prédio gigante e lindo – que eu me arrependo no momento por não ter fotografado, mas o farei em breve – eu fiquei esperando até que algum dos dois pontos de atendimento vagassem. Porque já aprendi aqui que você aborda o atendente, e não o contrário.

Neste momento, meus amigos, algo muito emocionante me aconteceu: eu proferi meia dúzia de palavras em alemão e… ELA ME ENTENDEU! (inserir fogos de artifício aqui) Eu tive muito orgulho de mim por ter conseguido me comunicar. Mas obviamente não entendi praticamente nada do que ela me disse. Só post e haus, logo eu soube que me mandariam o que quer que fosse pelo correio. Claro, fiquei insegura e pedi minha amiga pra perguntar se era isso mesmo pelo áudio do whatsapp, que eu mostrei pra tia e mandei outro de volta com a resposta pra ela me confirmar.

Resultado: funcionou. Preciso voltar lá pra terminar de entregar a documentação, mas o processo está encaminhado.

SEGUNDO ATO

No Kita, preenchendo o papel de requerimento de vaga (sim, porque não basta o voucher, você ainda luta até conseguir uma vaga).

Atendente: Endereço?
Cintia: Merseburger strasse
A: Bitte?
C: Merseburger strasse
A: Sorry, I don’t get it.
C: Merseburger strasse. Let me show you (e abro o Google Maps mostrando o nome da rua)
A: Ah, ok. Merseburger strasse.
C: Como vocês pronunciam em alemão?
A: Merseburger strasse.
(este diálogo aconteceu em inglês)

Eu juro que falei a mesma coisa que ouvi. Juro. Ela só disse mais devagar. Tem alguma coisa muito errada.

Sim, às vezes eu pareço confusa pra eles.

E a aventura continua.

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Novo amor

De repente estou gravida. As primeiras semanas pareceram longas pelas sensações novas e incômodas, mas agora me parecem rápidas demais.

Hoje, com 15 semanas, o “de repente” me parece a hora certa, embora não fosse a programada. A incerteza deu lugar à uma sensação de segurança, força e beira o poder, com essa coisa mística que é estar com uma pessoa em desenvolvimento dentro de si.

“Está tudo na mais santa paz”, me disse o doutor depois de ver os exames e ouvir os batimentos. Minhas alterações de humor e correria de trabalho então estão sendo assimiladas pelo filhote de forma positiva, imagino. Mas como não seria? Cada mulher que encontro pelo caminho me faz uma pequena oração, me da um abraço de amor e manda carinho pro pequeno! Alguns afagos na pança emitem essa energia deliciosa direto pra casinha dele, e isso me faz a cada dia um pouco mais mãe, um pouco mais feliz e um pouco mais segura.

Papai já da tchau e oi, faz carinho e planos. E mamãe acorda de manhã no sábado, coloca uma música gostosa e vai ler/assistir sobre a gravidez e o bebê.

Que os dias continuem repletos de amor e paz, que meu pinguinho de gente tenha saúde e traga mais luz pra esse planeta.

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É Caminhando que se Diverte

Costumo dizer que me divirto muito e com muito pouco.
Outro dia, voltando pro carro depois de ir resolver chatices no Guará, um cara me chama:
– Oi, posso falar um instantinho com a senhora?
(eu finjo que não ouvi, ele dá uma corridinha pra me alcançar e insiste)
– Moça, só um instantinho, não precisa comprar agora não! Eu vendo produtos pra você lavar o seu carro, tenho dois tipos, um é específico pra bla bla bla, o outro é bom pra esse tipo de material aqui ó, dá licença, só pra mostrar aqui pra senhora como é bom meu produto – daí ele já tava com boa parte do corpo dentro do meu carro e continuava a falar incessantemente enquanto eu concordava com a cabeça e dizia “nossa, que legal…” – Olha moça, eu nem tô botando força, tá vendo? quer ver, ó, é uma esponjinha comum, e olha a cor que ficou aqui só com essa passadinha de leve. Viu como seu carro tava sujo? Esse outro aqui a senhora não acredita, faz bla bla bla e além de tudo ele vai tirar esse arranhadinho aqui, esse outro aqui, e custa só quinze reais cada um, se levar os dois faço desconto.
Nessa hora eu já queria rir – Ô moço, seu produto é bom mesmo, mas eu tô sem trocado.
– Não tem problema, tá aqui meu cartão, eu tô sempre por aqui, tem aí meu celular TIM, VIVO, Oi ou Claro.
Eu e meu apreço eterno pelas peculiaridades da vida provinciana ficamos muito mais felizes. E fiz propaganda do produto dele pra todo mundo que entrou no meu carro =P

Pois bem, ontem foi um daqueles dias chatos, em que uma dorzinha que me azucrinava desde o domingo passado se tornou prioridade. E fui eu pro pronto socorro. Voltando pro carro – mesma situação, mas essa mais sucinta:
– Oi, eu vi suas tatuagens, posso te dar meu cartão?
Nesse momento eu me perguntei se ele por acaso tava achando algum “defeito” nas minhas tatus ou se ele parte do princípio que toda pessoa tatuada ainda há de se tatuar – Ah, sim. Obrigada!
– Tatuo aqui na asa norte, passa lá depois pra conhecer!
Assim que entrei no carro olhei o cartão do rapaz e quase o chamei de volta dizendo “oi, moço! Eu vi aqui o seu cartão e sou publicitária… tome aqui o meu cartão pra gente dar um jeito nisso”.
É maldade um publicitário maldar do tatuador que não preza pela estética e a boa produção de seu cartão de visita? Guardei o cartão, não pra propagar, mas pra contar a história, que fica muito mais legal com caras, bocas e o próprio cartão toscão.

foto
Impressão um pouquinho desconjuntada, hshshs

Conclusão: a vida dentro do escritório ou do carro não te propicia boas histórias pra contar. Keep walking.

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