Sobre credibilidade, verdade da alma e autocuidado
Qual a responsabilidade que tenho com o que escrevo? Porque escrevo sobre mim sob o rótulo de auto ficção, registrando fielmente a alma da minha percepção, enquanto circulam por aí os maiores absurdos, ornamentados com exclamações vermelhas que são tomados como reais? Escrevo palavras da alma que colho como forma de auto cuidado, publico como um meio de validação e mantenho com esperança de conexão. Mas e quando a autora tende a se descredibilizar?
Autores com qualquer nota que lhes dê presuncão de autoridade, ou por qualquer questão étnica, etária, acadêmica ou monetária podem ter mais notoriedade mesmo sem a menor credibilidade. Mas se algo se repete por milhares de vezes vira “verdade” – vide ‘mamadeira de piroca’. Pelas minhas pesquisas e, infelizmente, por vivência, alguns motivos pelo qual um autor pode não ter credibilidade, com ou sem intenção: falta de método, seguir uma linha obsoleta ou fazer uso de recortes aleatórios pra construir uma narrativa fantasiosa – o último podendo ser causado por mau caratismo ou quadros psiquiátricos. Sad but true.
Eu como mulher, com experiência prática e autodidática infinitamente maior do que acadêmica, com tendências subversivas e diagnóstico neurológico psiquiátrico {e quem não tem deve não estar prestando atencão!} passei a ter dificuldade com a minha própria escrita. É aquele esquema: como qualquer outra forma de texto, o meu blog tem o meu viés, minha agenda. Faco exatamente um exercício de organizar o que vem de dentro da cachola, então porque diabos eu tenho que me esforcar pra me despir desse vira lata?
{enquanto isso lado a anticiência tem renomes e batendo em teclas vazias e quando menos se espera minha hermana posta um trecho do 0l4vo dando dados fantasiosos pra inferiorizar *qualquer-pessoa-que-não-seja-o-interlocutor/espectador*. O horror da comunicóloga em camadas sádicas}
Retomei esse blog depois de um longo bloqueio criativo, que começou com um burnout e terminou com uma inegável necessidade. Eu precisei me expressar, colocar em frente aos meus olhos {com cautela, curiosidade, responsabilidade e afeto} quais eram os sentimentos que meus pensamentos escondiam. O que existia no meu peito por debaixo daquela vergonha – em 2020! – flutuando na minha cabeça? Inadequada, errada, derrotada? Não parece minha história quando tento um olhar geral, então porque o sentimento?
Meus textos só começaram a reaparecer quando aceitei que não é possível saber ao certo o que nos leva a nos encontrar e nos divergir das pessoas que passam pelo nosso caminho, e que a grande sacada é estar a par da própria verdade. As consequentes relacoes são secundárias. O que pode ser possível e passível é trabalhar o que nos aproxima nós mesmos, da nossa autenticidade. E, no meu caso, o grande catalisador da busca por mim {pra me conhecer, acolher e amar} foi ter me perdido por completo na maternidade. Eu estava conhecendo a miúda e querendo dar pra essa filha maneiríssima uma mãe inteira – que até então eu mal sabia quem era. Dá um medo surreal olhar pro breu do lado de dentro da gente, mas é cada vez mais pacífico e gratificante.
Não me busquei pela escrita, mas encontrei muito de mim nas sequências de palavras. Escrevo o que percebo, da forma caótica que vejo, com as analogias que crio e os enigmas que minha mente traz; o processo me encanta e diverte. {sonoridade, ritmo, poesia, correlações e confusões}. Traduzo de dentro pra fora e dali pra ponta dos dedos. Às vezes flui, às vezes vira um quebra-cabeça. Deus me livre escrever o que não quis dizer – e assim me permito 2, 4, 20 revisões, e depois assumir que ficou obsoleto. Afinal de contas, a grande armadilha de se estar do lado certo da história é saber que os facistas pensam o mesmo, e a ciência se desenvolve deixando nossas atuais verdades pra trás.
Doeu aí também? (continua aqui)