Desintuitivamente

Eu sinto saudade. Mas de um jeito louco, sem sentido.
Eu não consigo compreender como podemos estar tão distantes e tão unidos. Minha família é meu cerne, minha base e está dentro de mim programados em cada célula minha. Amo até o infinito. Meus amigos tem todo o meu coração e minha eterna gratidão e admiração. São responsáveis pelo que me tornei e pela vida que construí. Estão em cada passo que dou.
Daí – pasmem – eu tenho uma saudade imensa e devastadora de quem? De mim. Descobri muito recentemente que meu perfil extremamente racional (para padrões brasileiros, diga-se de passagem) é muito mais um ônus do que um bônus. Minha energia não flui, as medições não acabam, a análise não tem fim.
Quando nos mudamos pra Berlim a pouca dedicação que eu tinha pra com o meu coração se tornou nula. Não queria sentir nada e não queria me deixar distrair. Essa coisa de migrar é muito doída (e doida também). A gente começa a se ver como nunca se viu, põe tudo em perspectiva, repensa as maiores convicções, porque agora o mundo começa a te mostrar facetas que não eram perceptíveis nem assimiláveis. Aqui eu excluo todas as dificuldades práticas da expatriação.
Calei meu coração pro medo e me enchi de argumentos que me deram coragem e gratidão. Ainda assim: usei argumentos. Analisados, escolhidos, com diversos desdobramentos e ajustes. Cada ideia sendo tratada como um projeto. Esse trabalho não tem fim.
Com tanto foco nos meus pensamentos, eu esqueci de mim e quem eu sou – com uma mãozinha, claro, da maternidade.
Estou tentando racionalmente resgatar minha intuição e alguma leveza, enquanto estimulo minha irracionalidade (no melhor dos sentidos) por meio de experiências sensoriais e flertando com a magia.
PS: nada como uma auto análise de complexidade mediana pra se sentir produtiva em tempos de ódio.

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