Capítulo 4 – E agora, José?

Capítulo 4

Quando saí de Berlim eu tava com o coração apertadinho, do tamanho do meu dedão. Tava com medo porque ouvi dizer muito pouco sobre o trabalho da Schmerzklinik Kiel, a maioria boa, porém ditas por profissionais da saúde na Alemanha, uma categoria de profissionais que geralmente não nos entendem.

Logo que cheguei na Alemanha ouvíamos muitas reclamações quanto ao sistema de saúde. Até aí eu me pergunto: quem nunca ouviu reclamação sobre o sistema de saúde no Brasil? It is what it is: saúde é assunto delicado, médicos não são Deuses, a medicina não é ciência exata e nossa responsabilidade acaba por ser anulada por uma infinidade de inseguranças que aprendemos a ter sobre o nosso próprio corpo.

Ao invés de sermos estimulados a explorar e conhecer esse sistema complexo que é o corpo que habitamos, nós passamos a terceirizar toda a responsabilidade de entendimento pra profissionais da saúde. E não há de ser – aqui o médico fala pra mim: é você quem vai saber, vai observando, sente como está… Me orienta mas me passa a responsabilidade. E o tempo todo batendo na tecla – só remédio não adianta.

Na Schmerzklinik temos práticas baseadas em pesquisas recentes sobre a enxaqueca, uma série de especialistas e, o que me chamou a atenção: tem muito mais vivência, convivência e troca moderada por psicólogos. Os médicos vem e conversam por alguns instantes, os psicólogos estão em praticamente todas as atividades.

E dentre a gama de novas informações que tive contato aqui, destaco uma série de aulas com técinicas para conseguirmos identificar e eventualmente parar: autojulgamento, falta de auto confiança, pensamentos ruminates, [edit] como dizer não e afins. Técnicas que ouvimos aqui e precisamos compreender, assimilar e colocar em prática.

Me pergutei por que será que temos exatamente essas 5 aulas especificamente para 5 ‘problemas’, A explicação – ou parte dela – veio numa palestra do idealizador do programa, um médico doutor (de doutorado mesmo tá, haha) que tem dedicado sua vida ao tema. Em determinado momento ele menciona que ha um padrão no raciocínio das pessoas que tem enxaqueca como doença primária [não um sintoma para outra doença]: normalmente são pessoas com raciocínio rápido e que fazem muitas interligações dentro de cada raciocínio, tem uma dificuldade incrível de ir de A a B sem passar por pormenores, desvios e fazer projeções [desnecessárias?]. Ele dá dois exemplos e ambos me caem como uma luva.

No fim ele diz algo como: vocês precisam aprender a pensar menos e mais devagar. E eu [novamente me refirerindo à minha oração da manhã] sempre peço: “…que traga serenidade, simplicidade e suavidade aos meus pensamentos…”, porque siiiiiiiim, são complexos, pesados, difíceis, complicados e atrapalham meu convívio, meus prazos, a possibilidade de simplesmente viver o dia sem medir. Falei disso aqui e aqui.

O Doutor disse também outras coisas maravilhosas que esse raciocínio emaranhado pode nos possibilitar – afinal num pode ser só ruim :D

E agora? A festa ainda não acabou. Estou a 3,5 dias de ir pra casa, ha 13 aqui. Mantive a mesma média de ataques de enxaqueca de quando estava em casa, tive uma complicação nos pés causada pelo tratamento, que foi interrompido e substituído, aprendi técnicas de mindfulness pra driblar algumas pendengas e um punhado de outras coisas que podem ter um impacto positivo com o passar do tempo no meu quadro.

A realidade é que, ao contrário do que eu pensava, não tinha nenhum pó de pirlimpimpim pra passarem em mim e eu não vou chegar em casa completamente curada. Agora é ajustar a rotina, a alimentação, os horários, aguardar o novo tratamento fazer efeito e ter paciência, sabendo que há possibilidade de diminuirmos tanto a intensidade quanto a frequência das crises, de acordo com o médico-chefe, em aproximadamente 9 meses.

Escrevo com lágrimas nos olhos, parte por ter a dádiva de poder estar aqui onde parecem entender o que se passa comigo – e também pela alegria de estar confiando no Universo. Afinal, sabendo que não se trata de uma ciência exata, os 9 meses podem ser 9 dias, 9 semanas ou – esperamos que não – 19 meses.

Pá.Ci.ên.Cia.

Que saudade de casa <3

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Sobre relações sociais

Hoje cedo pipocou pra mim alguns trechos do Zuckerberg falando ontem sobre os escândalos do Facebook no congresso americano.
O que me impressiona nessa história é perceber como a gente se acostumou e aprendeu que o Facebook é mandatório pra moldar sua imagem na vida – como se o fato de se preocupar com sua imagem perante a sociedade já não fosse polêmico o suficiente, hshs. E o entendimento das nossas relações sociais passou a ter um único dono, que é o presidente executivo da empresa que gerencia nossas fontes de contato. É, no mínimo, muito estranho.

A ferramenta deixou de ser uma brincadeira com os amigos (eu entrei jogando Mafia Wars e outros joguinhos pra compensar a falta de um Nintendo na vida) e virou meio de vida, moldou minha área de formação e a profissão de muita gente. Eu parei de jogar, aprendi a compartilhar onde eu tava, o que eu penso, de quem eu gosto e o que eu como. Enquanto isso eu vi namoro balançado porque a pessoa não quis linkar o parceiro no perfil, já vi gente que soube do término da relação porque esse link sumiu, já vi gente brigando por ter lido nas entrelinhas do post alheio uma crítica que podia nem ser real, gente que se desdobra pra ter as mais belas imagens da vida pra ganhar curtidas e fica por conseguinte enlouquecido com o colecionamento desses cliques. Não estou falando de empresas.

Eu venho usando o Facebook cada vez menos, não saio porque tenho uma resposta muito positiva nos grupos que participo e eventualmente vou contar as perolinhas da minha pimpolha, mas essa página me dá muito mais desgosto do que prazer, e no desuso eu acabo ganhando. (app de grupos, sdds) Também tenho tentado dosar meus acessos, mantendo-os em determinados horários do dia, de preferência longe da Luiza – já que aquele feed não tem fim e a gente acaba se perdendo em quanto tempo estamos perdendo.

Aprendemos a nos conectar nos distanciando fisicamente, afinal sabemos da vida de todo mundo – ou das pessoas que o algorítimo nos permite ver – superficialmente; então o tomar um café ou ligar pra saber como estão perde o porquê. e existe toda uma geração moldada com essa base social calcada no virtual, não ha como voltar atrás – se é que isso seria vantajoso. O que noto é que a gente perde o tempo de cuidar das nossas vidas consumindo informação superficial com leads sensacionalistas (falsos ou não) enquanto rodamos esse feed com design viciante e salvamos trocentos links maneiríssimos que nunca iremos abrir, porque afinal temos uma vida pra cuidar. Ad infinitum.

Não creio que seja segregando que se desenvolve empatia, não sei se os debates políticos nos levam a algum lugar diferente do asco e do rancor, ou as pessoas não estariam se informando melhor caso fossem vítimas estivessem à mercê exclusivamente dos grandes meios de comunicação do Brasil.

Eu não sei sobre vocês, mas no meu feed só aparece gente anti-homofóbica, com consciência ecológica e que odeia qualquer linha de fascismo. Uma pena que na verdade o que lemos no Facebook está longe de ser a realidade popular.

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Maternagem Eterna

Tento fazer do meu blog algo além da maternagem, mas não por acaso tenho sido mãe 24h por dia. E nunca pensei que essa tarefa fosse me pertencer, muito menos ~tomar tanto tempo na minha vida. Porque mesmo quando eu estou estudando, quando estou escrevendo, quando estou passeando, eu sou mamãe. E minha prioridade 1 na vida é ter uma cria saudável; a número dois é tentar ajudá-la a se tornar um adulto forte, de caráter e, acima de tudo, humano.

Depois disso vem aquela parte de diversão, grana, carreira (hahaha) e sei lá mais o quê. Claro que a gente não pausa uma parte da vida pra viver outra, mas é nítido como atualmente tudo gira em torno do bem estar da nossa família.

Pois bem, eu parei de amamentar a Luiza faz uns 2 ou 3 meses, eu não sei ao certo. Não planejei o desmame e acabei não memorizando a data em que ele aconteceu. Desde então eu convivo com muitas mães que ainda amamentam, com filhos – em sua maioria – menores que Luiza, e sempre me vejo tentando falar algo sobre a minha experiência, embora eu tenha convicção de que não necessariamente vai ajudar. Daí entra o meu exercício de empatia e acolhimento – e menos falação.

Mas aqui é meu lugar de falação, hehe.

Não vejo obrigatoriedade da amamentação e agradeço aos céus por ter amamentado a Luiza tanto tempo, mesmo achando que, na minha percepção pessoal, não parece tanto tempo assim. Cada caso é um caso, e o meu por sorte foi muito mais suave do que vejo por aí.

Sim, houveram incontáveis noites em que ela acordava incontáveis vezes. E ela mamava e eu dormia. Em várias ocasiões ela também doriu na própria caminha até 3 ou 4 da manhã, pra depois acordar 5-9 vezes antes das 8h. Eu não fiquei sã o tempo todo, as vezes eu ficava bem cansada. Mas daí eu pensava no quanto ela ia ser bebê por pouco tempo. Eu mesma tô aqui com 33 anos e só mamei até os 3. Depois passei a dar outros tipos de trabalho pra minha mãe :)

Agora estamos numa fase super tranquila. O Terrible Two é uma grande piada por aqui, ela chora pra fazer coisas que já estão em curso, mas também para logo. Quer fazer tudo sozinha. Na maioria das vezes eu deixo, e pronto. As vezes ela chora porque não quer que eu escove os dentes dela, mas em 20 segundos ela abre a boca e se contenta em segurar a ponta da escova. Eu tenho um anjinho, ela é um amor, ela passa dias sem chorar, consegue se comunicar muito bem e isso diminui bem sua frustração ; talvez por isso ela chore pouco. Confesso que tentei me preparer pra algo muito pior.

Ela no mundo

Mas como se sabe, cada um sabe a dor e a delícia da sua própria vida, e por aqui eu aprendi a agradecer pelas bênçãos, pelas tretas e entender que tudo é normal. Vai ter dia difícil, vai ter dia mágico e faz parte da vida, então me altero pouco. Imagino que, por uma eventualidade, a vida pode acabar aqui, amanhã, ou daqui a 100 anos, e não quero estar pensando que estava me lamentando. É um exercício pesado no início, mas eu me acostumei e hoje agradeço até pelas chuvas e pelas meias rasgadas.

E em dias terríveis de decepções, mortes, desesperanças políticas, impasses… nada melhor do que ter um amor imenso sorrindo e dando esperanças de que em algum momento estes seres de luz vão fazer o mundo brilhar.

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Pedro Voa Souto

Eu não convivi com Pedro. Embora ele tenha almoçado na minha casa, tenha tocado por um curto período com meu marido, eu estava numa fase conturbada, delicada e não consegui interagir com ele. Porém testemunhei a admiração enorme que Fabricio tinha por aquele garoto.

Um monstro em talento, uma enciclopédia do rock (deixando nossas enciclopédias favoritas boquiabertas), um sorriso doce. Quando ele me foi apresentado eu não acreditei que aquele menino era tudo aquilo que ouvia dizer, não o associei às histórias que ouvi, levei uns 20 minutos depois do encontro pra entender que aquele Pedro era “o” Pedro. Era 2011 ou 2012, não sei com exatidão, mas ele era ainda mais jovem, com cara de criança mesmo, rs.

Os anos se passaram, e como a maternidade veio eu perdi o fio da meada no rock. Mas via os vídeos no Facebook, acompanho à distância a genialidade dos garotos brasilenses fazendo jus ao rótulo da cidade de “berço do rock”. É de uma energia incrível, a forma como a cultura vem se desenvolvendo – independente, forte, psicodélica, inspirada e louca.

foto de Artur Dias

E Pedro representa essa energia, com um grande peso em carisma, amabilidade e o puta talento (com o perdão do palavrão pela falta de um termo maior). Ele estava lá. Não está mais – não neste palco, não neste plano.

Eu creio nos planos divinos, acredito que não há acaso e que jovens que fazem a passagem “cedo” cumpriram seu papel. Mas isso não me impediu de estar abalada. Uso todos os argumentos possíveis pra tentar acalmar meu marido, mas enquanto falo o que penso meu coração chora junto.

Me vem flashes dos amigos sorridentes, falando do Pedro com um amor e admiração profundos, dos vídeos de assisti há menos de um mês da banda em que ele tocava e me engasgo. Quando soube que ele estava mal eu jamais acreditei que este seria o desfecho.

Tenho raiva por ter aprendido a sofrer com a morte. Acredito que é uma passagem, que pra morrer basta estar vivo. Se houvesse distinção de idade, caráter e talento o Pedro estaria aqui.

Aos amigos em comum, aos familiares dele … que o tempo conforte seus corações. E que ele esteja em paz. Aqui em casa seguimos em luto, porém seguindo.

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Renovação

Passamos alguns dias sem post com a visita do tio Dindo da Luiza aqui em Berlin. Tenho muito orgulho de ver como o tempo passa e a pequena nutre o amor pelos familiares apesar da distância, e entende como precisa aproveitar a presença, pois estão nos visitando – ou seja, vão voltar pro Brasil em breve.

Isso significa que ela passa os dias com um excelente humor, distribui abraços, sorrisos, faz graça e no fim se despede sem choro, com abraço forte e muito carinho. A gente acha que ela tem uma tristezinha nos dias que se seguem, que acaba sendo demonstrada com dificuldade de sono e um pouquinho de choro, mas ela não questiona a condição de estarmos aqui e eles não.

Eu acho que já mencionei isso aqui (to com vestígio de enxaqueca e muita preguiça pra me certificar, sorry), mas acredito que a Luiza crescendo com acesso a duas línguas e meia, tendo uma cultura dentro de casa e outra na rua, com horas de Skype, visitas e amor, vai ter uma construção diferente da nossa quando se trata de saudade e distância.

Eu assimilei que as vezes estamos próximos das pessoas fisicamente, mas o coração tá distante… e vice-versa. Porém eu assimilei isso com quase 30 anos, já ela tem 2 e é assim que tento ensinar. Fico feliz quando ela, espontaneamente, no meio da nossa oração, agradece pela casa nova, pelo metrô de Berlin, pela neve e pelos avós e tios. São indícios de que ela ama tudo que a cerca por aqui, e tudo que deixamos lá.

Recentemente fui buscá-la no Kita e ela pediu pra dar um abraço numa das cuidadoras antes de ir. O abraço levou tanto tempo pra terminar que fiquei levemente constrangida, mas a Soledad (sim, ela é chilena e muito amorosa!!) parecia estar curtindo aquele abração sem fim tanto quanto a Luiza… O constrangimento virou orgulho e gratidão.

Receber gente que amamos na nossa casa, no país que escolhemos e nos escolheu, é revigorante e acalentador. Continuamos lutando pelo nosso espacinho aqui, pela integração, conhecendo mais gente, mais lugares e felizes e pelo que vem acontecendo no nosso percurso.

Danke, Deutschland!

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Eis

Essa semana eu tive prova do curso de alemão. Tô basicamente na metade do que seria o nível básico de alemão.
Minha maior satisfação foi saber tudo o que estava sendo dito na prova inteira e entender as questões. O bônus foi ver os colegas que eu acho que falam muito melhor do que eu me pedindo cola, hahahaha.

Eu percebi que realmente tenho uma afinidade com a gramática, pelo menos no nível básico que tenho sido apresentada. Os fonemas estão se tornando mais familiares, porém preciso ainda de muitas horas diárias pra criar a memória auditiva. O fato de sermos uma família brasileira é maravilhoso em mil aspectos, principalmente pela certeza de que Luiza jamais perderá o português que ela exercita com a gente. Mas passo 90% do tempo vivendo em Português, e isso “atrasa” o desenvolvimento da terceira língua.

Não posso dizer, porém, que não estou satisfeita. Hoje eu me vi na mesma sorveteria que estive há 6 meses. Da primeira vez eu não fazia a menor idéia do que eram os nomes dos sabores e a minha amiga precisou pedir pra gente. Hoje eu entrei, na fila captei algumas conversas, ri do vendedor brincando com as crianças, compreendi os sabores, escolhi, pedi certinho, educada, respondi as perguntinhas básicas do atendimento (tipo copo ou casquinha!) e me despedi agradecendo aos céus por saber como as coisas mudam.

Além disso, tenho me percebido uma fã incondicional do meu quarteirão e seus arredores. A sorveteria natureba, a cafeteria famosa, os restaurantes deliciosos, os bolos do café da esquina, o visual do restaurante/livraria, as galerias de arte, a padoca de 130 anos… E morro de emoção quando reconheço alguém com quem já troquei um bom dia ou pedi uma informação andando aqui no bairro. É muito bom se sentir em casa poucos meses após mudar de continente.

Talvez seja pela minha cerveja favorita, talvez pelo queijo divino que comprei na promoção por menos de 2$ ali no mercado. Talvez seja pelo sol que saiu hoje e deu um sample de primavera, pela visita do cunhado ou porque mamãe e irmã jajá estão chegando também pra visitar… O mais provável é que, pela soma de tudo e por um tanto mais que tem acontecido: estou feliz como há muito não me sentia.

Ich freue mich auf die Zukunft.

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Cor-de-rosa

Eu nunca fui do time cor de rosa. Eu gostava de azul e de vermelho. Depois só de vermelho. Depois de amarelo. Não fui impressionada pelas princesas nem por nada mais da Disney. Tive minha filha no meio da primavera feminista, o que me deixou ainda mais atenta a como/quando/porque expor à minha filha essas miudezas. Então eu sempre fiz questão de ter coisas de todas as cores e apresentar todas as coisas, sem imposição de gênero.

Somados à isso, eu tenho uma política de sempre dar à Luiza duas ou no máximo três opções, e com essa limitação tento ensinar que ela tem uma liberdade, mas dentro do que é oferecido por nós (A.K.A. necessário). A estratégia serve em qualquer âmbito: quer comer banana ou mingau? Quer vestir o casaco azul ou o roxo? Quer escovar os dentes com a escova de galinha ou do macaco? Quer ir de mãos dadas ou no colo? Não há opção de não executar a ação. E se ela resiste eu explico que algumas coisas a gente faz sem gostar mesmo, emendando uma historinha de porque é preciso fazer aquilo.

E hoje… um dia comum, mas provavelmente uma das últimas vezes que eu levo a Luiza de carrinho até o Kita – porque o papai vai passar a levá-la de bike. Aproveitei que vi um pai passando de bicicleta com o filho na mesma situação, eu disse pra Luiza: “olha lá filha, é assim que você vai amanhã pro Kita”, e no intuito de falar sobre o capacete que ela vai precisar usar eu continuei:

– E tá vendo aquele chapéu verde que o menininho está usando?
– Chama capacete, mamãe!
(hahahaha)
– É o que, filha?
– Capacete!
– Ah, que bom que você conhece o capacete! Então, o papai vai te levar na loja pra você escolher um pra você.
– Pode ser Rosa, mamãe?
– Claro, meu amor. Pode ser rosa, pode ser amarelo, pode ser azul, pode ser de jacaré, de Bob Esponja, de Hello Kitty…
– O da Luiza é rosa.

Daí a mãe engole o choro e começa a rir. Pode ser rosa sim, com sorte não vamos ter na loja uma opção de um rosa que *EU* ache muito feio.

E, a julgar pela nossa experiência, é praticamente impossível que a Luiza mude de idéia.

EDIT: animais (zebra e pato inclusos) > cor de rosa. Obrigada, Universo!

Capacete infantil cor de rosa para ciclismo
O meu é rosa

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2016/2017

Faz uns anos que vejo os anos terminando e as pessoas dizendo que foi o pior ano da vida. Deve ser coisa de adulto. Me dei conta há pouco tempo que virei “coroa”, que aquela vida de adulto que a gente nunca vê chegar tá aí faz tempo, e como toda percepção na vida depende de referências a gente tá sempre se enganando que não chegou.

2016 foi um ano repleto de decepções, o que indica que as coisas devem melhorar. A humanidade evolui com o caos, então torço pros bons ventos começarem a soprar em breve.

Eu não posso reclamar desse ano, porque por bem ou mal tomamos a grande decisão de mudar pra um país o qual (ainda) não falamos a língua local. Estou vivendo uma dura fase de adaptação no inverno europeu, com um sol que só brilha das 9 as 16 e zoa nossos hormônios.

Minha leitura é a de que, embora sinta saudades e tenha que matar um leão por dia aqui, não vou me estressar no trânsito, não sofro com o calor e finalmente estou me movimentando pra:
1- mudar de carreira
2- aprender outra língua
3- ter uma filha bilíngue
4- buscar uma vida mais simples
dentre outras coisas.

Vou continuar reclamando, mas vou continuar analisando isso e tentando ser uma pessoa melhor a partir daí. Vou continuar a agradecer pelas infinitas possibilidades, pelos acertos e erros na minha jornada.

Pra 2017 eu só espero mais encontros e mais batalhas vencidas/a vencer.

Feliz ano novo.

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Um pedido

No dia do atentado em Berlim estávamos voltando de um supermercado quando soubemos do episódio. Rapidamente entrei no Facebook e vi algumas pessoas que já tinham feito contato preocupados com a gente, mas vi também uma ferramenta fofa pra você se marcar “a salvo”, e assim o fiz. Aos poucos, todo mundo que tenho contato aqui foi fazendo o mesmo.

O local dessa tragédia é a uma estacao da que estive naquela tarde pra ir pro curso de alemão. Dá pra ver um lugar a partir do outro. É bem perto de casa, mas nâo é na minha esquina. E nós só passamos por lá uma única vez, ainda de férias, no verão.

Surgiu na minha cabeça aquela sensação de estar com o perigo por perto, mas eu resgatei a segurança que sinto diariamente caminhando pelas ruas por aqui – coisa eu evitava fazer desde que me mudei pra Brasília em 1998, quando soube de um assassinato de um garoto na quadra vizinha à luz do dia.

Passado o susto, passada a sensação de terror e a lembrança de que há muitas outras vítimas inocentes ao redor do mundo, comecei a fazer orações pelas almas e seus familiares. E, além disso, fui contemplada com a sensação de gratidão. Pela minha vida, pela saúde da minha família, pelo livre arbítrio e por todas as decisões que nos trouxeram até aqui. E, principalmente, pelo entendimento do privilégio que é poder estar onde estamos e tentar fazer algo bonito com isso.

2016 ainda não acabou… tem sido um ano desafiador. Em 2017 que tenhamos sabedoria, empatia, amor e humildade em doses cavalares. E que não nos deixemos rotular, generalizar, odiar ou desistir.

Sejamos fortes.

Paz.

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Evoluindo

Eu tô aqui num dia leve, sem muita coisa na cabeça, tive tempo de estudar, mas aí veio um papo com marido sobre o fato da Luiza ter aparentado estar com saudade dos avós um dia desses.

Eu acho que a forma dela construir a própria relação com a saudade será diferente de tudo o que a gente sente atualmente. Se os prós de estarmos aqui não fossem maiores que esse “pequeno” fato dela crescer longe da família nós não estaríamos aqui. E não estaríamos confiantes e determinados com nossa escolha. Não me preocupo. Acho que as férias no Brasil serão sensacionais. E acho que ela vai chorar no fim assim como eu chorava pra ir embora do Carmo do Paranaíba, onde passava tempo com os primos e tudo era festa.

Daí eu penso em mim, na minha saudade, no meu sofrimento – aquele que eu já mencionei que eu despacho rapidinho. Poucas coisas me causam o buraco no peito que sinto quando vejo foto ou vídeo da Luiza com o Gabriel na chácara da minha mãe. Bu-ra-co. É duro ver que aquilo não tem data pra acontecer de novo, e como estarão grandes quando acontecer.

Ainda bem que por aqui as coisas estão evoluindo, que a pequena gosta da escola, que a matéria no curso de alemão hoje fez algum sentido e que o frio de -5°C ainda me parece gostosinho.

Relativizar sentimentos é uma arte.

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