Only those who are dealing with chronic illness would understand
the pain {besides the pain} of having your worst nightmare underneath your skin
Relief comes covered in fear
Only those facing invisible illness might recognize the loneliness of being misunderstood
{they come along with the physical discomfort piled up with social disappointment}
Three steps forward, three steps back
Cheers to Tempo - not the time, not the weather, nor the rhythm;
The beauty of a word converging
my least favorite capitalist appropriation
the the muse of my motion
and the motion, devotion
It went all wrong and {maybe therefore} everything is right
Cintia Vinhal, almost 40yo, Luiza’s mom, Communication and Process specialist. Since 2,5 years with symptoms that led to a new meaning of life with an incredible self awareness and gratitude for the others – silver lining since 1983.
Tava buscando uma paz que eu jamais (nunca nunquinha) tive. Não consegui. Talvez porque ao sair da caixinha que aprendi a viver, sem querer, arrastei comigo um saco de culpa e com ela a dor de um luto; e os dois juntos pesavam aproximadamente 3 galáxias.
Dou minha palavra. Fui quem escalou com as unhas (e dentes?) o interior de uma garrafa de vidro opaco enquanto chorava um pranto tão tenro (cheio, tanto, farto, falho) que, por fim, puxar aquele saco (haha) teve uma mãozinha da densidade salvada (salgada, apegada, sentida, magoada, frustrada) daquele líquido. Lágrimas arrancadas de um ego em desconstrução, a lamúria do desconforto causado por um enredo improvisado ao invés do planejado.
A garrafa onde eu vivi foi se enchendo de lágrimas e eu fui ficando pequena, perdida, pesada, palavra. Imergi com muito esforço e vi por cima do gargalo um mundo que ninguém me apresentou. Seria ali minha nova morada. Normalizei o sentimento de medo, associando-o não ao perigo, mas ao mero desconhecido. (Coragem não é falta do medo)
Hoje eu sigo a filosofia da encruzilhada: minha alegria contém dor e minha tristeza se sustenta por graças. E não acabou: à medida que me permiti me acolher e me ouvir, meu corpo adoeceu e perdi o fio da meada. Onde ansiei por um galope num viçoso campo aberto tive uma sequência de quedas e tropeços (trancos e barrancos) por um caminho tortuoso, exaustivo, escorregadio e sintuoso.
Me entendo no quarto (vago, fraco, leve, vil) renascimento. A maternidade me desfez, migrar me oprimiu, separar me estilhaçou, adoecer me murchou. Mas nada disso me reprimiu: há uma alma que une o pó do que restou, e ela brilha, cresce, sente, chora e ri enquanto o ego se atrapalha. Parece que a alminha falou mais alto e, no momento, paramos de esperar e passamos a viver.
Ora, o ontem não me pertence, o amanhã me decepcionou tanto e tão repetidas vezes que o deixei. Sobrou o agora, que oscila entre brando, leve, bobo, triste, exausto ou dolorido, mas vejam só: ele sempre se vai, se esvai, se finda; já a alma fica.
Essa semana completo meus 39 anos. O branco da paz eu só vejo em sonhos. Venho aprendendo a desacelerar cada dia mais, olhar o caminho com compaixão, honrar a jornada com orgulho e arriscar saltinhos dançantes entre um e outro passo cambaleantes.
Civi na metade do sexto setênio sem paz, porém mais calma que nunca
Eu sinto saudade. Mas de um jeito louco, sem sentido.
Eu não consigo compreender como podemos estar tão distantes e tão unidos. Minha família é meu cerne, minha base e está dentro de mim programados em cada célula minha. Amo até o infinito. Meus amigos tem todo o meu coração e minha eterna gratidão e admiração. São responsáveis pelo que me tornei e pela vida que construí. Estão em cada passo que dou.
Daí – pasmem – eu tenho uma saudade imensa e devastadora de quem? De mim. Descobri muito recentemente que meu perfil extremamente racional (para padrões brasileiros, diga-se de passagem) é muito mais um ônus do que um bônus. Minha energia não flui, as medições não acabam, a análise não tem fim.
Quando nos mudamos pra Berlim a pouca dedicação que eu tinha pra com o meu coração se tornou nula. Não queria sentir nada e não queria me deixar distrair. Essa coisa de migrar é muito doída (e doida também). A gente começa a se ver como nunca se viu, põe tudo em perspectiva, repensa as maiores convicções, porque agora o mundo começa a te mostrar facetas que não eram perceptíveis nem assimiláveis. Aqui eu excluo todas as dificuldades práticas da expatriação.
Calei meu coração pro medo e me enchi de argumentos que me deram coragem e gratidão. Ainda assim: usei argumentos. Analisados, escolhidos, com diversos desdobramentos e ajustes. Cada ideia sendo tratada como um projeto. Esse trabalho não tem fim.
Com tanto foco nos meus pensamentos, eu esqueci de mim e quem eu sou – com uma mãozinha, claro, da maternidade.
Estou tentando racionalmente resgatar minha intuição e alguma leveza, enquanto estimulo minha irracionalidade (no melhor dos sentidos) por meio de experiências sensoriais e flertando com a magia.
PS: nada como uma auto análise de complexidade mediana pra se sentir produtiva em tempos de ódio.
Aprendi a ler antes dos 4 anos brincando com as cartilhas da minha irmã. Tinha pavor da alfabetização precoce porque a minha aparentemente me gerou, basicamente, estresse. Tenho diversas memórias na infância que hoje entendo como cobranças desnecessárias, pois eu era tida como uma promessa de “sucesso”; e simplesmente sou uma pessoa bem mediana que questiona os o que chamam por aí de sucesso.
Pois bem, minha filha com 1 ano e meio brincava de ler a marca na lona da piscina “pi-shi-na vo-vô”, passou a perguntar o que tava escrito em tudo que queria e memorizou as letras pouco antes de fazer 2, isso sem estímulo intencional à alfabetização. Luiza memorizou sei lá quantas logomarcas porque apontava pra faixada das lojas e perguntava “que mercado é esse?”, eu só respondia. Em seguida a gente tomava o ônibus e ela ia berrando “olha o Lidl! Olha o Rewe! Olha a DM! O banco do papai! Aquela moça tem uma sacola do Edeka!”, Eu gargalhava com um mix de roxa-de-vergonha e morta-de-orgulho daquele bebê de fralda apresentando as lojas pelo caminho.
Comecei a dar uma surtadinha basica e, nas conversas com amigos, eu entendi que não responder quando ela pergunta é um desrespeito ao interesse dela e que eventuais malefícios viriam da imposição do aprendizado, eventualmente também da cobrança de uma genialidade por parte dela.
Agora estamos chegando a 3 anos e meio, ela pega o lápis de cor e escreve a letra A ou S, ela pega o meu telefone quando toca e já me avisa quem tá ligando e vez por outra me traz umas pérolas, tipo dizer que na capa do livro tá escrito Margô (o sobrenome do autor é Ca’margo’) e dizer que o Terno “é com a mesma letra da Lanterna”. Eu acho graça, sinto um orgulhinho e não tento impulsionar mais, seguindo o ritmo da curiosidade dela.
Na Alemanha não há alfabetização antes dos 5-6 anos, quando as crianças vão pra escola, ela tá na Kita e o dia é preenchido com passeios, música, histórias e brincadeiras. Mesmo assim se eu falar no verão “in Sommer” Ela me diz “mamãe, é im Sommer, com M assim” fazendo um M de libra, que não faço ideia com quem ela tá aprendendo, haha.
Segue o baile… Eu tava com uma lista de compras na mão e a Luiza pediu pra escrever. Eu falei “tá, escreve seu nome”, isso foi há umas três semanas. Não é que ela escreveu? Ela tem 3,5 anos, saiu um Z zoado e conhecendo minha cria, sei que ela se embananou no A por conta disso. Eu fiquei embasbacada sem querer fazer muito alarde pra não inibí-la.
Semanas depois eu disse pra ela que minha amiga que estava nos visitando também amava as letras e sugeri que ela escrevesse o nome de novo. Ela, bem serelepe, pegou o giz de cera e mandou esse L “pequenininho pequenininho” o U assim do lado e assim por diante, narrando a tarefa. No fim ela perguntou, “mas mamãe isso aqui não é um C?” apontando pro Z dela. Eu disse que o Z é bem difícil de fazer mesmo, mas que o dela estava excelente pra idade dela, mostrei com o giz vermelho como tinha sim um Z ali.
Luiza me vira do avesso e redefiniu minhas certezas. E eu, que ainda brigo comigo mesma pra definir minhas levezas, vou levando esses cutucões e torcendo pra seguirmos nosso caminho tranquilamente, pacientemente, naturalmente… E assim ela continuar a me ensinar.
Quando eu era criança eu sonhava em ter uma casa com escada e cachorro. Quando casei com ele eu tive. Quando era adolescente eu dizia que se tivesse filho eu ia querer um sagitariano. Com ele eu tive.
Quando eu me entendi por gente eu dizia que queria morar em Paris. Ele me levou pra lá, passeamos de bateau no rio Sena e subimos a torre Eiffel – de escada – pra vermos a cidade luz do alto, num fim de tarde incrivelmente lindo.
Eu sonhava em morar fora do Brasil e trazer uma miscelânea de culturas pra minha casa, com ele eu vim.
Eu não tinha certeza se queria ser mãe, com ele eu quis. Ele me deu a possibilidade de estar vivendo a experiência mais intensa da minha vida, criando essa mini figura a quatro mãos: regadas de suor, confiança e orgulho.
Eu cresci cheia de certezas e controladora, ele faz a egípcia pras minhas orientações e discorda dos meus critérios, até por fim acharmos juntos um consenso, cheio de maleabilidade pra lá ou pra cá.
Ele quebrou minha dureza, me faz repensar. Me fez acreditar no impensável, em mim e na resiliência do amor. Tenho a-sorte-de-um-amor-tranquilo-com-sabor-de-fruta-mordida que me deixa de olhos marejados de orgulho; da nossa história, das nossas batalhas, da nossa cumplicidade.
Se não fosse pelas idéias dele eu não estaria onde estou. Se não fosse pelas minhas ele não estaria onde está. Nós estamos construindo esse infinito que é amor/casamento/família sabendo que ainda temos muito a conquistar e ainda muito a perder – o bom e velho paradoxo da escolha.
Eu escolho você, Fabricio Cinelli. Com o mau humor matinal, com seu cuidado com a gente, com seus talentos, com a impaciência, lealdade e companhia. Todos os dias são nossos. Te amo.
Das doçuras da vida:
Luiza ganhou da tia Rejane há pouco mais de um ano uma “tesoura” num jogo de massinha de modelar; amarela, minúscula e toda de plástico, perfeita pro propósito.
Aqui estamos, 3 anos e 4 meses de esperteza com as palavrinhas, uma ótima coordenação motora e a inocência do tamanho dum bonde.
Toda vez – toda vez mesmo – que eu mencionava que precisava de uma tesoura pra cortar algo, fosse um fio, uma corda, tecido ou papel, ela instantaneamente me dizia:
— com a minha amarela?
O tempo foi passando e eu passei a responder que aquela não dava, porque ela é de massinha. Hoje ela pediu pra tirar esse (gancho) prateado das cabeças da Swoops e da Mimi, eu disse que dava pra cortar com a tesoura.
— pode ser minha tesoura amarela de massinha?
Luiza há uma semana começou a usar um verbo novo, o MANHAR.
Filha, pega essa sacola pra mim? “Você tá manhando essa mamãe?”, “eu manho que vou de patinete”, “você manha que eu posso fazer isso? eu manho que não”, “mamãe, você manha que papai tá chegando?”.
Foram 3 dias de eu manho, você manha, está manhando até eu entender que ela traduziu o verbo meinen do alemão. Pra quem entende inglês, é parecido com o verbo to mean.
Agora alguém me avisa se é certo morrer de orgulho de um trem errado desse tanto?
3 anos e 3 meses. Uma metralhadora de conceitos emaranhados no que ela ouve por aí. Muito “certo e errado” e um perfilzinho analítico e detalhista querendo argumentar.
…….
Depois do banho perguntei se Luiza queria ficar mais uns minutinhos brincando na banheira. Quantos?
– Dez!
Saí, voltei, conversei com ela, fui na cozinha, voltei, falei com ela de novo, e de repente voltei sem falar nada e ela faz uma cara seríssima:
– Não passou dez ainda!! Eu tava contando!!
– Ah, tudo bem, devo ter me distraído. Quantos minutos faltam, filha?
– Vinte!
…………………………
– Filha, quer ver o Pinocchio antes de dormir?
– Sim! A Tanis da minha Kita fala Quinóquio. Ela fala errado, Pinocchio não é com Q, é com P!
– Que fofa!
– É mamãe, ela fala errado. Quinóquio. É errado.
– É porque ela é pequena, filha. Quando você era pequenininha e chamava o elefante de Tutu não era errado, era só seu jeito de falar. Você tava aprendendo ainda.
– Mas mamãe, Quinóquio é errado – gesticulando muito.
– Você acha, filha? E Pelevisão?
– Pelevisão é certo!
…………………………
— Mamãe, o que é isso branco aqui no seu cabelo?
— Isso é meu cabelo mesmo, são os cabelos brancos que você me deu.
— eu acho que eu não te dei não, eu acho que eles estavam aí mesmo.
…………………………
Botando pijama na miúda e conversando sobre as coisas que ela não precisa fazer:
— você já é craque, filha. A mamãe foi aprender essas coisas grande já. Sabe quando?
— hum? (Olhar muito interessado)
— com quase 30 anos.
— Trinta mamãe? Igual minutos?
Faz tempo que bateu aqui que a graça dessa vida é superação e gratidão. Eu vim pra Brasília/São Paulo depois de 1 ano e 2 meses de Berlim. Agora estou a 36 horas de partir de volta pra casa.
Estou terminando a jornada de quase um mês no Brasil com encontros lindos na memória, abraços infinitos que afagaram meu coração e chorinhos divinamente consolados pelos anjos amigos que a vida me deu – que são minha grande fonte de gratidão e aprendizado.
Na última semana eu encontrei minha amiga Sandra, que me foi apresentada em 2008 pela primeira chefe, Gigi – que sempre digo que foi quem me ensinou a trabalhar. Trabalhei também com a Sandra, que me dava lições diárias de garra, persistência e compaixão. Nós nos tornamos amigas.
Na última quinta eu tinha uma reunião pra qual Sandra me ofereceu uma carona, mas por força do destino foi cancelada e tivemos tempo para um lanche juntas. Conversamos sobre os rumos da vida, os replanejamentos, reestruturações; a beleza da resiliência e da simplicidade.
Ela estava leve, sorridente e com a gargalhada gostosa de sempre. Me prometeu uma visita no meio do ano, já que seu filho do meio vai estar por ali. Mas nós não sabiamos que ela estava encerrando seu ciclo no nosso plano. Eu não consigo mensurar o que senti quando soube da sua passagem. É devastador saber que uma mãe foi embora. As mães deviam ser eternas.
Tive um colapso seguido de resgate – de novo esses amigos-anjos me ajudando a me curar. Minhas crenças se sobrepõem às lágrimas. O susto aos poucos vem dando lugar às orações – que pareciam caça palavras ontem. A sensação de dormência vai dando lugar à gratidão por ter uma amiga como ela cruzando meu caminho. Gratidão ainda maior por tê-la encontrado há poucos dias e testemunhado a leveza que ela sempre mereceu.
Minha irmã ontem mandou um texto que dizia: “Quando chegar o momento de partir dessa vida, uma pessoa iluminada, que vive em paz e em harmonia com o mundo inteiro, se moverá para uma dimensão de total benção e alegria.” E assim é.
Eu espero ainda ter a oportunidade de dar todos os abraços possíveis em todos os amigos enquanto estamos por aqui. E que meu ego compreenda que para morrer basta estarmos vivos. Não é preciso entender, apenas aceitar. Enquanto estamos aqui, o melhor a fazer é crescer, superar, agradecer e amar.
PS: Acho que as mães são eternas, afinal amor de mãe não acaba.
Luiza pega o iPad e usa o microfone da busca do YouTube kids. Aperta, segura e diz:
– eu quelo a música do “nós gatos já nascemos plobes, polém já nascemos livles senhor senhola senholio”
Nenhum resultado. Ela reclama – Nein! – e repete a operação pacientemente: – eu quelo a música do “nós gatos já nascemos plobes, polém já nascemos livles senhor senhola senholio” – e solta o botão, sem encontrar nenhum resultado. “Nein!” – aperta de novo (loop ad infinitum)
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numa fase onde o fôlego é 4 ou 5 vezes menor que a frase, ela vem até a cozinha e pede:
“Mamãe, você pode ligar a Pelevisão com o cotlole do Blu uêi que tem a marque da Sungasung?”
(Mamae, você pode ligar a televisao com o controle do Bluray que tem a marca da Samsung?”