Canina

Essa semana nos deixou minha primeira cachorrinha, Dona Catarina. Uma poodle meio misturada, das patas compridas, pêlo ora branco ora champanhe (ou encardido, como preferirem). Eu sempre quis um cachorro, e quando tive a chance de ter, eu só queria um Beagle chamado Igor. Mas veio um colega da minha mãe, dizendo que a Belinha, novo poodle da família, estava dando alergia no filho, não tinham o que fazer e iriam abandonar ou sacrificar. Na hora que eu soube corremos pro endereço onde ela estava e o senhor me entregou aquela bolinha de pelo desgrenhado e ralo, com uma cor esquisitinha. Morri de amores peguei com uma mão e a deitei do meu lado, com a cabecinha no meu colo. Saí quase sem me despedir. Com um medo doido dele não querer mais doá-la. Acho que mamãe pagou $30,00 pra ele depois no trabalho. Então Belinha se tornou Catarina, como a louca da novela “O Cravo e a Rosa”.

Era pequena, agitada e desengonçada, dava uns pulos hilários, como se fosse uma carneira. Aprendeu a só fazer xixi na grama e a subir em cima da mesa pra comer restos de lanche praticamente no mesmo tempo. Xixi em casa ela nunca mais fez, mas com o tempo passou a ter preguiça de subir na mesa, pra nossa tranqüilidade.

Colocávamos a coleira pra passear e ela fingia estar sendo sufocada. Mesmo sem apertar ou puxar a coleira, o som que ela fazia era puro enforcamento. Assim passou a andar por toda Brasília – e entorno – sem coleira, atrás da minha mãe, prestando atenção pra não se perder, porque mamãe estava super confiante de que Catarina era suficientemente esperta pra acompanhá-la, e nem olhava pra trás.

Catarola, Catara, Catarolina. Não sei se por esse nome humano tão comprido, a bichinha aprendeu a obedecer comandos longos e inusitados. E talvez pelo esforço mental que foi obrigada a dominar por conta dos comandos, se tornou uma figurinha extremamente expressiva e carismática. “Catarina, vem me fazer companhia no banco da frente”, “vou fazer as compras e você fica aqui fora esperando, ok?” ou “Catarina, eu já te disse que você é a última pessoa a sair do elevador” eram comandos compreendidos e obedecidos pela pequena.

Catarina não sabia ser cachorro quando encontrava outros seres da espécie. Nunca cheirava um rabinho de um colega. Sentava e ignorava o outro bichinho, esperando por nós, humanos que nos comunicássemos ou brincássemos com ela. Se encontrava uma criança se sentia ameaçada pelo rival. Algumas vezes abocanhava o calcanhar da criaturinha quando achava que não tinha ninguém olhando. Nunca chegou a machucar ninguém, graças a Deus.

Fazia pipi com a pata levantada, chorava quando os filhotes queriam mamar na ocasião que foi mãe. Pariu revoltada zanzando pelo quintal, foi preciso sair catando os filhotes no caminho. Depois de castrada adotou os bichos de pelúcia, chorava quando os perdia, procurado pelos cômodos. Sempre fingiu que nunca subia no sofá. Mas a marca quentinha sempre estava lá, as vezes acompanhada pelos brinquedinhos.

Ela fugia. Sempre dava umas voltas e retornava no fim do dia, toda imunda de cocô. Sentava na portaria esperando que o porteiro abrisse e ouvia a bronca na maior humildade. Eu a esfregava, lavava com água fria, brigando e ela ficava com um olhar baixo, como se pedisse desculpas pela selvageria. Perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu, mas lembro perfeitamente quando ela com uns 4-5 meses entrou no galinheiro na casa da minha bisavó, aterrorizou as galinhas e se cobriu no cocô delas. Foi um presságio. Aff, Catarina… Precisava??

As histórias engraçadas e impressionantes são várias. Já foi tema de mesa de bar por horas a fio. E a última delas foi enfrentar uma pitbull no cio que invadiu seu território, e dessa aventura ela não conseguiu se recuperar.

Foram 11 anos de risada, preocupação, carinho e alegria. Permanecem saudade, amor e gratidão.

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